São Paulo, quinta-feira, 8 de fevereiro de 1996 |
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O samba de Vicentinho
NELSON DE SÁ
Para ele, Vicentinho é tudo, menos ingênuo. Ele é esperto, para usar uma das expressões dúbias citadas por aquele que é, afinal, o padrinho. Ontem o afilhado esperto confirmou que de ingênuo não tem coisa alguma. Primeiro foi a nota da CUT, ainda de manhã, que levou os telejornais da tarde a anunciar, por exemplo, na Manchete, que "a CUT ameaça romper acordo da Previdência". O ambiente no Congresso foi descrito o dia todo como de "confusão", na Globo, ou de "incêndio", na Record. O presidente telefonou às pressas. O ministro Reinhold Stephanes foi correndo e, em acareação com o relator Euler Ribeiro diante das câmeras, afirmou que leu no relatório um ponto que nem existia. Ponto que era, exatamente, aquele questionado pelo esperto Vicentinho -o prazo de dois anos para entrarem em vigor as regras de aposentadoria. Vicentinho chegou dizendo às câmeras "estão mentindo". Alguém citou o quadro como "a ira de Vicentinho". Início da noite, terminadas as reuniões, a questão do prazo de dois anos some da boca do presidente da CUT. Em coletiva, ele menciona apenas "uma série de pontos" que estariam fora do relatório, todos menores, como admitiu. Quanto ao prazo, nada. Aproveitou para dizer "eu tenho que confessar a vocês, gente, que nunca vi negociação que tem hora que parece samba. Um grita, outro grita, e por trás disso um documento que não é o que a gente entendeu". Por conta, Stephanes e Euler Ribeiro levaram de todo lado, ontem. E cederam mais um pouco, na "série de pontos" do esperto Vicentinho. Na sua última entrevista de ontem, na CBN, Vicentinho cortou toda a pressão e abriu o jogo, afinal: - Não podemos cometer a irresponsabilidade de -por qualquer coisa- sair fora desta negociação. Por isso nós vamos negociar até a exaustão. - Eu fiquei muito puto hoje de manhã, mas definitivamente eu estou constatando que nós estamos dando passos. É aquilo -o negociador "até a exaustão" Vicentinho é tudo, menos ingênuo. Texto Anterior: Vicentinho e relator trocam acusações Próximo Texto: Conheça a nota da CUT Índice |
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