São Paulo, quinta-feira, 8 de fevereiro de 1996 |
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Cubanos vivem um apartheid turístico
MARIO CESAR CARVALHO
Quase nada aí é quase nada mesmo. É comum encontrar em Havana motoristas de táxi que dizem ter tomado como café da manhã um copo de água com açúcar. A idéia de que todo cubano tem direito a uma alimentação digna, difundida pelos burocratas da revolução, virou relíquia do passado, tal qual os fios negros na barba de Fidel Castro. Como a economia cubana não vai muito além do binômio charuto-rum, inventou-se o apartheid turístico para tentar contornar o fim da mesada da ex-União Soviética (estima-se que era algo em torno de US$ 1 milhão por dia). É nesse cenário moral que se passeia por Cuba, não muito diferente do que o de qualquer país capitalista. O cenário natural, arquitetônico e cultural é bem melhor. Havana tem um casario dos séculos 18 e 19, em Havana Velha, comparável ao de Salvador. Com uma vantagem: lá, as casas coloniais não parecem cenário de novela da Globo, como o Pelourinho de ACM. Havana Velha tem o que já foi considerado pela revista "Esquire" um dos cinco melhores bares do mundo: o Floridita. Faça como Hemingway: peça ao barman um daiquiri. Acenda um Romeo y Julieta e talvez você entenda por que Hemingway só saía de lá quando já havia bebido mais de uma dúzia de drinques. Praia em Havana é roubada. Lembra o Boqueirão, de tão entupida de gente. Varadero é o que Santos deve ter sido nos anos 50: uma cidade calma, charmosa e, às vezes, entendiante. O maior charme de Varadero são as mansões de férias de milionários norte-americanos, entre os quais Du Pont, da indústria química homônima. Até Al Capone teria tido uma casa ali, diz a lenda. Cayo Largo, ilhota a cerca de uma hora de vôo de Havana, tem praias melhores, mas é a síntese do apartheid turístico. É o que os cubanos acham que o estrangeiro busca: praias de cor esmeralda e hotéis escondidos na mata. Lá, cubano só é aceito como serviçal. Texto Anterior: Cubano come nos 'palladares' Próximo Texto: Mercado negro atrai turistas Índice |
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