São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
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Investimento bate recorde

CELSO PINTO

Os investimentos diretos externos no Brasil podem superar, neste ano, US$ 6 bilhões, o que seria um recorde histórico, se persistir o ritmo de entrada de janeiro.
Em todo o ano passado, entraram US$ 3,28 bilhões em investimentos diretos.
O diretor da Área Externa do Banco Central, Gustavo Franco, contabilizou até o dia 24 de janeiro deste ano, US$ 373 milhões em investimentos diretos. Projetado para o mês, o total chega a US$ 483 milhões.
Os investimentos diretos são a forma mais estável -e, portanto, desejável- de capital externo. São recursos investidos na produção, em projetos concretos, que não saem do país a curto prazo.
Outra forma quase equivalente de recursos externos, os empréstimos inter-empresas, devem ter chegado a mais de US$ 700 milhões em janeiro. Em todo o ano passado, o total foi de US$ 1,5 bilhão.
Esses números ajudam a explicar porque o BC foi tão cauteloso ao montar um novo pacote, ontem, de restrição à entrada de dólares.
Melhorou a qualidade do capital que está entrando no país. No entanto, seu impacto monetário, quando os dólares são convertidos em reais, é idêntico.
Existe uma pressão sobre a emissão de moeda, cujo efeito é potencialmente inflacionário.
A questão é: que dólar se quer conter?
O pacote do governo ataca os dólares que considera menos importantes: a compra de moedas podres para usar na privatização e os fundos de privatização.
Não porque a participação externa na privatização seja irrelevante, mas porque ela continua possível de duas formas, com dinheiro vivo e com títulos da dívida.
O BC foi tímido ao mexer nos empréstimos externos -apenas ampliou de dois para três anos o prazo mínimo e proibiu os bancos de usarem estes dólares na compra de dívida interna. Por quê?
No caso do prazo, porque o BC acha que boa parte dos empréstimos hoje são tomados no exterior porque oferecem prazos mais amplos, não em função do custo.
Ampliar o prazo mínimo é algo coerente com este princípio. Elevar o IOF geral dos empréstimos afetaria todo mundo.
Proibir usar empréstimo externo para comprar títulos da dívida pública é fechar outra brecha pela qual toma-se dinheiro mais barato lá fora, aplica-se mais caro aqui -e o governo paga a conta. Acabaram-se as brechas?
Certamente não. Para acabar de vez com o capital puramente especulativo, a única medida realmente eficaz seria reduzir os juros.
"Se a situação fiscal permitisse, esta seria a alternativa de menor custo", concede Franco. Como as contas fiscais continuam precárias, a redução dos juros continuará muito cautelosa.
E por que não taxar mais investimentos em bolsa?
Um argumento óbvio a favor destes dólares é que eles ajudam a alargar o mercado de capitais e transformá-lo em fonte de capitalização para as empresas. Franco usa outro ponto, mais sutil.
Em janeiro, entrou cerca de US$ 1 bilhão líquido de capital externo nas bolsas, provocando um aumento de 17% no mercado.
Como as empresas estatais respondem por 80% do mercado, ou cerca de US$ 30 bilhões, uma valorização de 20% significou um acréscimo de uns US$ 6 bilhões no patrimônio público. Ou seja, com US$ 1 bilhão externo, o Tesouro ganhou US$ 6 bilhões.
É claro que, se as restrições provarem ser tímidas demais, novas medidas serão tomadas, para preservar o controle monetário. Provavelmente, de forma seletiva e pelo lado do aumento de custo para o investidor externo e não pela restrição da quantidade.
Impor uma "quarentena" dos dólares antes de entrar no país seria uma forma de aumentar o seu custo. Mas com um grande incoveniente, segundo Franco: criaria insegurança no investidor se, com mudanças futuras de governo, seu dinheiro será mesmo devolvido.
Ouro especulativo
A versão de Gustavo Franco para a recente confusão no mercado do ouro, é que o BC do Brasil foi colhido por um tiroteio entre comprados e vendidos no mercado futuro internacional.
Os comprados, liderados pela visão mais conservadora do World Gold Council, acham que o ouro, apesar da alta recente, manterá sua tendência histórica para a estabilidade ou perda real de valor.
Os vendidos, capitaneados por alguns novos e agressivos investidores, apostam num ciclo de alta forte.
O mercado internacional de ouro "é um mercado de quadrilhas", diz Franco.
Como o BC do Brasil é ativo mas conservador, especuladores teriam espalhado boatos que ele estava apostando firme na alta, para criar a imagem de que ele é um aliado.
Cansado de desmentir que estivesse a descoberto em qualquer posição, ou que estivesse apostando numa só direção, o BC decidiu sair do mercado de ouro internacional por tempo indeterminado.

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