São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MST apresenta gravação contra delegado

GEORGE ALONSO
DA REPORTAGEM LOCAL

A direção nacional do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) divulgou ontem uma gravação em fita cassete como prova de que o delegado Marco Antonio Fogolin, de Sandovalina (Pontal do Paranapanema), propôs a entrega do líder foragido José Rainha em troca da libertação de quatro líderes dos sem-terra.
A gravação foi feita no gabinete do juiz da 2ª Vara Cível de Presidente Prudente (SP), em 31 de janeiro passado. Além do delegado, estavam na reunião o juiz Fernando Florido Marcondes, o promotor Paulo Sergio Ribeiro da Silva e um dos advogados do MST, Juvelino Strozake, autor da gravação.
O delegado, o juiz e o promotor não foram localizados ontem para comentar o teor da fita.
Segundo o advogado, a decisão de gravar ocorreu porque, no dia anterior, Fogolin teria feito essa mesma proposta na frente da sem-terra presa Diolinda Alves de Souza, mulher de Rainha.
Pela gravação, a sugestão de troca de presos partiu do delegado e não do advogado do MST, como chegou a dizer Fogolin e o juiz Marcondes depois que o MST denunciou a proposta publicamente na semana passada.
Esse, aliás, foi um dos motivos pelos quais a fita foi divulgada, segundo Strozake. "Minha reputação pessoal e profissional foi posta em xeque", afirmou.
Na fita, Fogolin diz: "Eu me dispus como delegado a fazer um relatório ao juiz e ao promotor pedindo a revogação da prisão dos que estão presos". Uma das condições que Fogolin impõe é a de que Rainha se entregue à polícia.
"Que o Zé Rainha se apresente pra mim e que eu traga ele aqui na presença do juiz com mandado de prisão, porque a polícia e a Justiça entendem que precisam dar uma resposta para a sociedade", afirma Fogolin, na gravação.
O delegado aparece na fita dizendo também que é "importante" que Rainha seja levado por ele até o juiz e que a "intenção" da proposta é única: "Dizer que nós damos as cartas, não o Zé Rainha. Não é brincadeira. É um puta negocião para vocês".
Em determinado momento, o juiz sugere que o advogado do MST consulte seu escritório sobre a proposta feita pelo delegado.
Ontem, outro advogado do MST, Luiz Eduardo Greenhalgh, entrou com pedido de habeas corpus no Tribunal de Justiça de São Paulo, tentando a revogação das prisões preventivas de seis líderes dos sem-terra. Dois estão sumidos.
O texto integral da gravação foi anexado ao pedido. Para Greenhalgh. ao propor a troca, ficou claro que os presos não oferecem perigo à ordem pública, como diz o delegado de Sandovalina.
A fita também foi entregue pelos advogados do MST ao governador paulista, Mário Covas.
Outro lado
A Agência Folha procurou o delegado Marco Antonio Fogolin às 17h20 na delegacia seccional. Uma funcionária, que não quis se identificar, informou que ele havia acabado de sair. Seu celular ficou o dia todo desligado.
O juiz Marcondes e o promotor Silva também não foram localizados em seus gabinetes.

Colaborou a Agência Folha, em Bauru

Texto Anterior: PF quer ouvir políticos da pasta rosa
Próximo Texto: Circo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.