São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
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Raytheon quer mais influência, diz militar

LUCAS FIGUEIREDO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O coordenador da comissão de implantação do Sivam (Sistema de Vigilância da Amazônia), brigadeiro Marco Antônio Oliveira, disse ontem que existe uma "queda-de-braço fortíssima" com a empresa norte-americana Raytheon pelo controle de parte do gerenciamento do projeto.
Oliveira afirmou que a Raytheon "queria fazer integração" do projeto, ou seja, serviços de gerenciamento que implicam em manejo de informações consideradas de segurança nacional. Pela proposta da empresa, o trabalho seria feito pela E-Systems.
A E-Systems, comprada pela Raytheon em maio do ano passado, é uma empresa especializada em trabalhar para agências de espionagem norte-americanas, entre elas a CIA. A E-Systems faturou US$ 2,1 bilhões em 94, 85% desse montante em negócios envolvendo operações secretas do governo dos EUA e de outros países.
Oliveira disse que o governo não irá ceder. Segundo ele, a Embraer (Empresa Brasileira de Aeronáutica) ficará com os serviços de integração que estão sendo alvo de interesse da Raytheon.
"Todo o software (programa de computador) estratégico será desenvolvido por nós, brasileiros", afirmou o brigadeiro. O desenvolvimento do software implica manejo de dados sigilosos sobre o funcionamento do sistema e informações sobre biodiversidade, recursos minerais, reservas indígenas e tráfico aéreo consideradas de segurança nacional.
O projeto prevê que todos os serviços de integração sejam feitos no Brasil. O Ministério da Aeronáutica assumiu essa tarefa depois que a empresa nacional Esca foi afastada do projeto acusada de ter fraudado a Previdência.
A Raytheon vem tentando convencer o governo a participar dos serviços de integração desde o início do projeto.
O brigadeiro Oliveira disse que instituições financeiras estrangeiras têm demonstrado interesse em emprestar mais dinheiro para que o governo implante o Sivam. Entre essas instituições estariam um banco japonês e o Eximbank.
O Eximbank, controlado pelo governo dos EUA, já é o maior credor do Brasil no projeto. Do total de US$ 1,7 bilhão emprestados ao Brasil para pagar a implantação do projeto e os custos do financiamento, o Eximbank entrou com US$ 1,4 bilhão. O brigadeiro disse que o governo não fez nenhuma requisição de novos empréstimos.

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