São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
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Moradia não deverá ser considerada um direito

DANIELA FALCÃO
DE NOVA YORK

A moradia não deverá aparecer como um direito do homem no texto final do Plano Global de Ação da 2ª Conferência de Assentamentos Humanos da Organização das Nações Unidas (Habitat 2), que acontece de 3 a 14 de junho em Istambul (Turquia).
A versão preliminar do parágrafo 44 do Plano -que trata da questão da moradia- diz que "os governos não têm obrigação de fornecer casas à população, e sim de proteger e assegurar o direito a habitações adequadas".
O texto preliminar foi apresentado ontem na sede da ONU, em Nova York, onde acontece o último encontro preparatório do Habitat 2 (Prepcom). A versão definitiva só ficará pronta no fim do encontro, em 16 de fevereiro.
Mas as chances de haver mudança neste quesito são remotas porque a maioria dos países era contra a inclusão da moradia como direito universal do homem.
O direito à moradia virou o tema mais polêmico do Prepcom porque alguns países temiam que, caso fosse aprovado, a população entrasse na Justiça contra os governos para exigir casas.
O país que mais questionou a vinculação da moradia aos direitos humanos foi os Estados Unidos.
Segundo o embaixador Geraldo Holanda Cavalcanti -chefe da delegação brasileira- o Brasil não é contra o conceito do direito à moradia, mas reconhece a dificuldade de que seja reconhecido em alguns países como um direito universal.
A falta de moradias, ao lado da escassez de água e saneamento urbano, são os principais problemas enfrentados pelas populações que vivem em centros urbanos.
Segundo a ONU, 500 milhões de pessoas não têm onde morar e 600 milhões vivem sem redes de água e esgoto nas áreas urbanas. A entidade estima que em 1990 os governos gastaram 3,32% de suas verbas na construção de casas.
ONG's
As ONGs (organizações não-governamentais) serão as maiores derrotadas se o parágrafo sobre direito à moradia permanecer como está, pois reivindicavam o contrário. Mas ontem as ONGs tiveram motivo para comemorar.
O secretário-geral do Habitat 2, Wally N'Dow, disse que os países que haviam se manifestado contra a participação das ONGs na elaboração do texto da agenda (China, Benim, Irã e Argélia) recuaram.
"A participação efetiva das ONGs nos processos decisórios é uma das conquistas do Habitat 2 e havia sido aprovada pela Assembléia Geral da ONU. Conversei com as delegações e eles desistiram de fazer oposição", afirmou.

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