São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
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BC tenta deter entrada de dólares

GUSTAVO PATÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo anunciou ontem um pacote de medidas destinado a conter a entrada de dólares no país, que explodiu neste início de fevereiro. Optou-se por medidas moderadas, mas foram atingidos os investimentos externos no programa de privatização.
A partir de agora, os recursos externos aplicados em fundos de privatização pagarão IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) de 5%.
Esses fundos investem nas chamadas "moedas de privatização", que são títulos da dívida do governo sem valor de mercado -mas que podem ser usados na compra de estatais.
Além disso, os estrangeiros não podem mais entrar com dinheiro no país pelas regras dos investimentos em Bolsas de Valores -sem tributação e com permissão de retirada a qualquer momento- para adquirir as moedas de privatização.
Empréstimos
O BC também ampliou de dois para três anos o prazo mínimo dos empréstimos externos tomados por empresas brasileiras. Com isso, há menor crédito no exterior e entram menos dólares no país.
O diretor de Assuntos Internacionais do BC, Gustavo Franco, disse que o objetivo das medidas anunciadas ontem é selecionar o tipo de capital que entra no país.
Ou seja, o governo quer estimular o recurso de prazo mais longo. As empresas buscam empréstimo no exterior porque os juros são mais baixos.
O presidente do BC, Gustavo Loyola, afirmou que as medidas são mais para "direcionar" do que para "conter a entrada de dólares". Ele disse esperar um ingresso menor em fevereiro, mas não muito.
Gustavo Franco disse que a previsão oficial para investimentos diretos -o capital produtivo, capaz de gerar empregos- no país este ano é de US$ 5 bilhões. No ano passado, foram US$ 2,9 bilhões.
Ainda com o propósito de selecionar o capital estrangeiro, os bancos que captam no exterior para repassar o dinheiro no Brasil ficaram proibidos de aplicar esses dólares em títulos públicos.
Até então, essa operação era permitida enquanto não se realizava o empréstimo interno com o recurso tomado lá fora.
O BC permitiu que estrangeiros apliquem em fundos imobiliários -aplicação cujos recursos são investidos na construção civil.
Se, no entanto, o fundo passar seis meses sem investir efetivamente, passa a pagar IOF de 10%.
Segundo Gustavo Franco, os fundos de privatização registraram grande entrada de capital externo em janeiro. Foram, disse ele, US$ 500 milhões -mais que em todo o ano de 1995.
Para ele, o programa de privatização não será prejudicado, porque os investidores podem participar dos leilões de estatais com títulos da dívida externa brasileira.
Mas o problema é que no programa de privatização, dirigido pelo Ministério do Planejamento, tais títulos não têm sido aceitos. A intenção do Planejamento é privilegiar os pagamentos em dinheiro vivo.
As medidas -que incluíram resoluções do CMN (Conselho Monetário Nacional), circulares do BC e decretos presidenciais- foram mais cautelosas que o esperado pelo mercado. O próprio Franco classificou as medidas de "moderadas".
Era dada como provável a adoção de um recolhimento compulsório ao BC de parte de cada investimento estrangeiro, o que vem sendo estudado pelo governo.
O comportamento futuro do BC vai depender da eficácia do pacote editado ontem.
Efeitos
Para as contas públicas, o ingresso de dólares tem o efeito colateral de elevar a dívida interna. O BC é obrigado a vender títulos públicos com objetivo de retirar da economia o excesso de dinheiro que provoca inflação.
Como as contas públicas vivem o seu pior momento desde o lançamento do Plano Real -o Tesouro voltou a ter déficit em janeiro, o que injetou mas R$ 2,4 bilhões no mercado- a atração de tantos dólares começou a se tornar insustentável.
Como em fevereiro o ingresso de dólares no país já ultrapassou R$ 1,1 bilhão, o mercado financeiro já esperava pelas medidas.

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