São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996 |
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"Voz de ouro" merecia mais
PEDRO ALEXANDRE SANCHES
Artista: Silvio Caldas Lançamento: Sony Quanto: R$ 60, em média Restrita às gravações de Silvio Caldas na Columbia, a caixa "O Caboclinho Querido" é menos abrangente nas gravações que nas composições. Abriga poucas gravações originais. Predominam regravações de sucessos anteriores nas vozes de Orlando Silva, Francisco Alves e do próprio Silvio. O universo de composições, por outro lado, é bastante amplo. Vai de "Ave Maria", escrita por Erotides de Campos e Jonas Neves em 1925, até "A Distância", balada de 1972 de Roberto e Erasmo Carlos. Entre as duas, passa por Pixinguinha, Cândido das Neves, Noel Rosa, Ataulfo Alves, Vinicius de Morais, Tom Jobim. As gravações na Columbia -minuciosamente remasterizadas, com resultado de alto padrão- revisitam clássicos do porte de "Serra da Boa Esperança", de Lamartine Babo, ou "Faceira", de Ary Barroso. A viagem passa por gemas obscuras, como "Foi Uma Pedra que Rolou", escrita por Pedro Caetano em 1933 (e coincidentemente relançada com brilho no ano passado pelo grupo curitibano Beijo A A Força). A síntese da obra do artista durante aqueles anos ignora critérios seletivos ditados pelo "bom gosto" vigente de regravações recentes do acervo da MPB. Assim, há espaço tanto para a elegância do regional de Canhoto quanto para pérolas de cafonice orquestrada, como "Jangada", "Maringá" ou "Há um Segredo em Teus Cabelos", uma valsinha sobre tônico capilar. O resultado é um painel de MPB bem mais autêntico que a permitido pelo filtro da história do bom gosto, repleto dos "rr" arrastados da dicção à antiga de Silvio. Mas o filão de ouro vem mesmo da parceria com Orestes Barbosa, em especial do inusitado que recobre os versos simbolistas deste. Veja-se, a exemplo, "A Única Rima": "Tens a graça das abelhas/ o olhar interrogação/ onde o til das sobrancelhas/ é o til da palavra não". Por limitação da gravadora, a insuperável "Chão de Estrelas" acaba maltratada: aparece em versão pobre, gravada ao vivo em 73. Na inevitável comparação com a caixa de Orlando Silva, lançada há pouco pela BMG, a de Silvio sai perdendo. O libreto que acompanha o pacote é pouco informativo, não há letras, não há fotos, o acabamento da caixa é descuidado. O último dos grandes da era de ouro merecia mais, muito mais. Mas qualquer precariedade cai por terra diante da voz e das canções de Silvio Caldas. (PAS) Texto Anterior: CDs recuperam 20 anos de Silvio Caldas Próximo Texto: Carrière dará curso de roteiro em Brasília Índice |
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