São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
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Queda de Boeing gera críticas aos vôos fretados

DAS AGÊNCIAS INTERNACIONAIS

Associações de pilotos do mundo inteiro criticaram empresas que fazem vôos fretados ou promocionais, atribuindo a elas a ocorrência de graves acidentes.
A causa foi a queda, anteontem, de um avião fretado pela empresa da República Dominicana (América Central) Alas Nacionales.
O Boeing-757 caiu no mar logo após decolar de Puerto Plata (costa norte), matando seus 189 ocupantes.
"As agências de viagem às vezes recorrem a empresas que têm aviões, mas que não dispõem da infra-estrutura de uma verdadeira companhia aérea", disse François Grangier, piloto que atua como perito em acidentes junto à Justiça francesa.
Na Alemanha, a revolta era ainda maior. O vôo era fretado por uma agência de viagens de Hamburgo e mais de 90% dos passageiros eram alemães.
"Praticamente já esperávamos por um acidente como esse", disse uma nota da Cockpit, associação de pilotos alemães.
O grupo diz que os aviões usados em vôos charter costumam ser malconservados, e as tripulações são maltreinadas e submetidas a cargas de trabalho excessivas. "A passagem mais barata não é a melhor", disse a associação.
Vôos fretados são mais baratos do que os vôos regulares. Na Alemanha (o segundo país do mundo que mais gasta com turismo), a concorrência entre as agências que fazem fretamentos reduziu muito as tarifas, permitindo que milhares de alemães façam viagens internacionais mais baratas.
"A desregulamentação e a guerra de tarifas levaram as companhias a não se entenderem mais", disse um especialista, que não se identificou, à agência de notícias "France Presse".
O piloto François Grangier diz que a negligência nos vôos não ocorre apenas nos vôos fretados. "Não se deve confundir companhia charter com companhia aérea pouco séria", disse.
O Boeing que caiu na República Dominicana tinha sido alugado pela Alas Nacionales junto à companhia turca Birgen Air.
A companhia rejeitou a tese de que um raio tenha atingido o avião, causando sua queda.
A hipótese tinha sido divulgada pela empresa alemã que fretou o vôo. A Marinha americana começou ontem a procurar no fundo do mar a caixa-preta do avião, que pode revelar o motivo da queda.
Um dispositivo eletrônico capaz de detectar sinais da caixa preta foi enviado para o local do acidente, onde deve ser instalado no fundo de um navio.
O equipamento que grava os dados do vôo e auxilia na apuração das causas deve estar afundado a 1.200 metros da superfície do mar.
Até a tarde de ontem, 128 corpos haviam sido recolhidos. As chances de novos resgates eram consideradas remotas.

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