São Paulo, sexta-feira, 9 de fevereiro de 1996
Próximo Texto | Índice

Dedos nos furos

As medidas anunciadque a maioria dos analistas econômicos tem visto como fator de desequilíbrio fundamental no Plano Real: a entrada excessiva de dólares no país.
As medidas obedecem a dois princípios básicos: impor custos aos que internalizam dólares buscando ganhos rápidos e tornar mais seletivo o processo de entrada. Os custos aumentam como decorrência de impostos e da obrigação de prazos maiores para a captação de recursos no exterior (o mínimo passa de dois para três anos).
A seletividade decorre da regulamentação que impede a tomada de empréstimos no exterior para posterior compra de títulos públicos. Ou que procura favorecer a vinda de recursos para fundos imobiliários, potencial fonte de gastos produtivos e de mais empregos na construção civil.
O mercado financeiro já antecipara a adoção de medidas dessa natureza. Nos primeiros dias de fevereiro houve uma inusitada avalanche de recursos, que entravam antes que as portas se fechassem. Mais uma evidência de que nem sempre o processo de tomada de decisões de política econômica amadurece no devido recato.
Entretanto, a rigor há meses já se tornava evidente que a intensidade dos fluxos de capitais para o Brasil era incompatível com a estabilidade. Transformados em reais, esses dólares tornavam ainda mais precária a gestão da dívida pública que o BC inchava no esforço de enxugar os reais do mercado.
A razão primordial do afluxo sempre foram os juros extremamente elevados oferecidos pelo Banco Central. A opção por travas e bloqueios administrativos, portanto, se de um lado obedece à lógica cristalina de evitar a enxurrada, será possivelmente pouco eficiente se os juros não declinarem com mais rapidez.
É conhecida a agilidade do mercado financeiro na criação de fórmulas capazes de aliviar tudo o que para o governo parece uma regulamentação incontornável.
Se não se avançar com a devida rapidez nos ajustes, em especial de natureza fiscal, que permitam a redução dos juros reais, os furos no dique provavelmente não tardarão.

Próximo Texto: Contratempos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.