São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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Mercadante contraria direção

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A direção nacional do PT está contrariada com a forma com que o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo Aloizio Mercadante está conduzindo a sua campanha dentro do partido.
Membros da cúpula petista não concordam com os ataques que Mercadante está dirigindo à ex-prefeita Luiza Erundina, sua adversária na prévia que o PT faz em março para definir quem sai candidato à prefeitura.
Escolhido pela cúpula do PT como o candidato natural para disputar a sucessão de Paulo Maluf desde que aceitou ser vice de Luiz Inácio Lula da Silva na eleição presidencial de 1994, Mercadante perdeu espaço para Erundina nas bases do partido no último mês.
Acentuando o ritmo de sua campanha para recuperar as posições perdidas, Mercadante tem dito nos diretórios do PT que a ex-prefeita tem uma alta taxa de rejeição no eleitorado e que fracassou em seu último teste eleitoral ao perder o Senado para José Serra (PSDB) e Romeu Tuma (PL).
Com esse discurso de enfrentamento, Mercadante procura neutralizar o efeito das pesquisas de opinião, que apontam a ex-prefeita com maior aceitação no eleitorado.
Segundo um membro da Executiva Nacional do PT que o apóia, Mercadante está adotando uma tática "suicida" e tem revelado "uma falta de controle inesperada para alguém com a sua experiência política".
O avanço de Erundina pegou de surpresa a direção do PT, que há um mês dava como certa a indicação de Mercadante. Isso está fazendo com que as lideranças petistas adotem publicamente posição de neutralidade entre os dois adversários.
Ontem, durante a conferência "Eleições 96", que o PT promove até domingo no Sesc Interlagos (zona sul de São Paulo), Lula resumiu numa frase a posição que irá adotar na disputa em São Paulo. "Aqui (em São Paulo) fica por conta de Deus", disse, ao ser perguntado se apoiaria Mercadante, por quem sempre manifestou uma consideração pessoal.
Em seu discurso durante o encontro, o presidente nacional do PT, José Dirceu, não fez menção a qualquer um dos dois pré-candidatos. Em conversas reservadas, segundo a Folha apurou, Dirceu se manifestou surpreso com o avanço de Erundina e comentou que em função disso já não sabe qual dos dois seria o melhor nome para representar o PT.
Presente ao encontro no Sesc Interlagos, Erundina não quis se pronunciar sobre a campanha e evitou qualquer crítica a Mercadante. Neste momento, ela acredita que, não atacando seu adversário em público, só tende a ganhar até a prévia.
Seu grupo político avalia que a possível candidatura do ministro das Comunicações, Sérgio Motta, por uma coligação liderada pelo PSDB, tende a fortalecer seu nome.
Os defensores de Erundina apostam que só uma candidatura consolidada na opinião pública terá condições de enfrentar a aliança que se esboça na capital paulista entre o PSDB, o PFL e o PPB do prefeito Paulo Maluf.
No PT, há um sentimento de que a disputa interna caminha para um desfecho ruim para o partido. Embora alguns membros defendam um acordo entre Erundina e Mercadante, evitando o desgaste da prévia, ninguém acredita que haja clima para evitar o confronto.

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