São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
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Globalização = confusão

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O melhor retrato da absoluta perplexidade que cerca a tal de globalização é dado por um de seus administradores, Michel Camdessus, diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional).
Camdessus debruça-se sobre os dados macroeconômicos do mundo no ano passado para concluir que, levando-se apenas eles em conta, "haveria muitas razões para mostrar-se sereno".
"No entanto", continua, "em toda a parte, nos países em desenvolvimento, naqueles em transição (os ex-comunistas), mesmo no grupo dos países industrializados, surge uma contestação ao curso atual das coisas e explodem crises maiores."
Na verdade, o que surpreende é a surpresa de Camdessus, não a contestação. Globalização é, por enquanto ao menos, um jogo para pouquíssimos.
Basta citar os dados de extenso documento encaminhado ao Fórum Econômico Mundial, edição 96, recém-encerrado em Davos (Suíça), pela Fiet, uma federação sindical mundial com 11 milhões de membros.
A Fiet informa que, da força de trabalho mundial (2,4 bilhões de pessoas), 125 milhões estão desempregadas e outras 625 milhões subempregadas. No total, portanto, há ao menos 750 milhões de seres humanos à margem do jogo -ou 31% aproximadamente da força de trabalho planetária.
O resto joga? Mais ou menos. Se por globalização entender-se também informatização, o que é mais ou menos consensual, a exclusão é ainda mais extensa.
Dados exibidos em Davos mostram que 350 milhões de pessoas no mundo todo usam hoje computadores pessoais. Parece impressionante. Mas basta voltar à força global de trabalho (2,4 bilhões) para concluir que apenas 15% estão "plugados" no novo mundo da informação, certo?
Pior: a distribuição regional de computadores é tão ou mais desigual quanto a distribuição mundial de riquezas. A mais recente pesquisa sobre o Mercosul mostra que apenas 9% de seus habitantes usam PCs.
Alguma surpresa quanto à contestação "ao rumo atual das coisas" que incomoda Camdessus?

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