São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Índice

Diálogo; Gasoduto; Tombamento; Paradoxo; Felicidade interior

Diálogo
"A reportagem 'Jobim se recusa a dialogar com ONGs', publicada na Folha de terça-feira, dia 6, página 1-11, briga com os fatos. O ministro foi ao debate, na Câmara, a pedido das ONGs. O pedido foi intermediado pelo deputado Sarney Filho, presidente da Comissão do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias. Embora estivesse ali convidado (para falar do decreto 1.775), foi o Capoib (Conselho de Articulação dos Povos e Organizações Indígenas do Brasil), uma ONG, que se retirou. Alegou que faltava-lhe um jurista para discutir com Jobim. O jurista contrário ao decreto apareceu no debate promovido pela Folha, em seu auditório, na segunda-feira, dia 5. Lá, enquanto um redator batia, na Redação, o título do dia seguinte, aquele em que Jobim se recusava a dialogar com as ONGs, no auditório o ministro iniciava o debate com Gersen Luciano -vejam só, membro do Capoib e vice-presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro. Luciano era um dos cinco debatedores. No auditório estavam representantes das principais ONGs do país. Quando aceitou ir ao debate Jobim sabia disso. O que o ministro disse na Câmara e tem dito em sua gestão é o seguinte: 'Não dialogo com quem não tem interesse na solução dos problemas, mas só em criá-los'. Ele dialoga -sempre- com quem quer solucionar os problemas. O ministro disse isso na primeira vez em que se reuniu com os índios, no início do governo. O Capoib estava presente."
Paulo Félix, chefe da Assessoria de Comunicação Social do Ministério da Justiça (Brasília, DF)

Resposta da jornalista Silvana de Freitas - O próprio assessor confirma, na carta, que o ministro tem dito que não dialoga com quem não tem interesse, a seu ver, na solução dos problemas, mas só em criá-los.

Gasoduto
"Estou complementando e/ou corrigindo algumas informações apresentadas na reportagem de 5/2, intitulada 'Supergasoduto é o Sivam da Petrobrás', e que foram destacadas em 6/2 no editorial sob o título de 'Megadúvidas'. O orçamento do gasoduto é de US$ 1,8 bilhão e deverá ser investido um total de 80% durante os primeiros três anos e os 20% restantes nos 10 anos seguintes. Existem dois outros investimentos significativos para que o gás natural saia das reservas bolivianas e chegue aos consumidores brasileiros: investimento em exploração e desenvolvimento de produção na Bolívia, a ser feito pelo governo boliviano e empresas multinacionais, inclusive a Petrobrás, estimado em US$ 800 mil a US$ 1 bilhão ao longo de 20 anos; investimento em distribuição de gás natural nos sete Estados brasileiros (MS/SP/RJ/MG/PR/SC/RS), a ser realizado pelas companhias estaduais e/ou privadas que receberam ou receberão as concessões para esses serviços. Tais estimativas a Petrobrás ainda não conhece, mas apenas para exemplificar, o maior mercado, o Estado de São Paulo, demandaria um investimento de US$ 250 milhões para implementação de sua rede de distribuição, segundo vem indicando a Comgás. A última certificação das reservas de gás na Bolívia, efetuada pela Netherland, Sewell & Associates, Dallas, USA, em junho de 1995, calculou que dos 142 bi m3 de reservas recuperáveis cerca de 85 bilhões m3 são classificadas como provadas, 30 bilhões são classificadas como prováveis e o restante como possíveis. Nova certificação, que está sendo contratada, atualizará essa avaliação econômica aos novos preços do gás negociados em agosto de 1995, bem como incluirá uma recente descoberta em Pallo Marcado, além de uma reavaliação nos campos de Bulo Bulo, Carrasco, San Roque, Vibor e Yapacani. Essas certificações, como se vê, são dinâmicas e, no caso, deverão indicar reservas provadas adicionais às anteriores. Embora o prazo contratual de fornecimento de gás seja 20 anos, o tempo calculado para o retorno do investimento é de 15 anos. Assim, o volume de gás para o Brasil para o período acima é cerca de 76 bi m3, caso se venha consumir 100% dos volumes contratuais, embora o nível de "take-or-pay" seja de 80% das quantidades contratuais, quando, a partir do terceiro ano, os fornecimentos entrarem em regime normal de operação. Além dos 76 bi m3 deve-se computar os volumes de exportação de gás da Bolívia para a Argentina por mais três anos de fornecimento, correspondentes a cerca de 6 bi m3, além do consumo interno de gás na Bolívia, hoje da ordem de 1,8 MMm3/dia. Assim, o consumo total de gás atingiria 92 bi m3, inferior à soma das reservas provadas (85 bi m3) e 50% das reservas prováveis (15 bi m3), ou seja, 100 bi m3. A análise dos 15 anos referidos acima obedece a critério exclusivamente financeiro, pois as taxas de retorno estão sendo calculadas para esse período de tempo, sendo o prazo de pagamento dos financiamentos das agências multilaterais de 10 a 12 anos."
Antonio Luiz Silva de Menezes, superintendente do Grupo Executivo para Viabilização do Projeto de Gás da Bolívia (Rio de Janeiro, RJ)

Tombamento
"A propósito da reportagem 'Tombamento de obras divide o mercado': 1 - Até o momento não foi feito o tombamento de nenhuma das obras citadas. Foi aberto um processo de estudos, para efeito de tombamento, de uma relação de 104 obras, feita pelos técnicos do Condephaat, a pedido da Associação Brasileira de Críticos de Arte. Só depois de concluída essa análise se poderá decidir pelo tombamento de todas as obras, de apenas algumas ou até de nenhuma delas. 2 - O tombamento não impedirá a livre movimentação e mesmo a comercialização das obras no país. O que se pretende é evitar a dilapidação e o êxodo do nosso patrimônio cultural para o exterior. 3 - Não se pode falar em 'insegurança do mercado' e desvalorização das obras tombadas. Ao contrário, o tombamento servirá como chancela da autenticidade e do valor artístico da obra. 4 - A Secretaria do Estado da Cultura e o Condephaat não adotarão nenhuma medida ao arrepio da lei e do bom senso e o tombamento só se concretizará depois de acurados estudos e amplo debate com a sociedade."
Marcos Mendonça, secretário de Estado da Cultura de São Paulo (São Paulo, SP)

Resposta da jornalista Mônica Maia - Em nenhum momento a reportagem diz que o tombamento foi efetuado. A reportagem também não diz que o tombamento impedirá a livre circulação ou comercialização de obras dentro do país. Mostra a reação de um colecionador diante da obrigação de notificar o governo sempre que uma obra seja retirada do Estado. A 'insegurança' do mercado diante do tombamento das obras reflete a livre expressão de marchands, galeristas e observadores do mercado de arte paulistano.

Paradoxo
"A atitude do Olodum em aceitar participar do clipe de Michael Jackson é lamentável. É um paradoxo o grupo que diz defender a raça negra, suas raízes, acoplar a sua imagem à de um artista que se dedicou intensivamente a negar sua negritude e finalmente se tornar um branco."
Mirela Carballal (Salvador, BA)

Felicidade interior
"Sou assíduo leitor da coluna de Otavio Frias Filho e, como médico estrangeiro que chegou ao Brasil há seis meses, não pude deixar de desfrutar cada linha. Eis um dos objetivos, se não o mais importante, dos educadores, dos médicos e dos ótimos jornalistas. Tentar mostrar aos leitores, alunos e pacientes que a felicidade está dentro de nós e que atingi-la é tarefa nossa, independente das forças do mercado, das pressões massificadoras coletivas consumistas e das manipulações pseudo-religiosas."
Jairo Enrique Contreras (Curitiba, PR)
*
"Ler jornal, para mim, passou a ser um sufoco. Dei de cara, porém, com um artigo de Otavio Frias Filho que vale a assinatura deste jornal: 'Sem medo de ser neoliberal' (1º/2)."
Maria Elena Pileggi (São Paulo, SP)

Texto Anterior: Lucro legítimo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.