São Paulo, sábado, 10 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vácuo virtual

Há vários meses se discute, não apenas no Brasil, a urgência de substituir a especulação por investimentos comprometidos com a produção e a geração de empregos. As medidas recentes do Banco Central são mais um capítulo nessa história. Importante, mas não decisivo.
A predominância no mundo atual dos fluxos financeiros de curto prazo não é casual, mas obedece a fatores que ultrapassam a capacidade de controle dos governos.
O fator mais fundamental é a exaustão, que se iniciou já na década de 70, do padrão de crescimento da economia mundial que vigorava ao longo do pós-guerra. É no contexto dessa exaustão, agravada pela crise do petróleo e por crises fiscais sucessivas em todo o planeta, que ocorre a explosão de crescimento dos circuitos financeiros globais.
No plano das empresas, a expansão pauta-se mais por ondas de fusões e aquisições e menos pela expansão de capacidade produtiva.
É o que se viu nos anos 80 e tem se repetido nos anos 90, em todos os setores. Mesmo as ondas de privatização, que aumentam a eficiência dos sistemas produtivos e criam Estados mais saudáveis, nem sempre fazem os investimentos decolarem local ou globalmente.
Temerosos das crises de Estado, céticos diante de mercados estagnados ou crescendo muito lentamente e sob mudanças tecnológicas cujo resultado ainda é incerto, os capitais migraram para o vácuo virtual das finanças desregulamentadas e internacionalizadas.
Parece que a natureza tem horror ao vácuo, mas as finanças não.

Texto Anterior: Cartada final
Próximo Texto: Ruth e a maconha
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.