São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996 |
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Maluf cobra empenho de FHC por reeleição
CARLOS MAGNO DE NARDI
"O tempo está muito apertado" para a aprovação da proposta. Na sua opinião, o presidente e os governadores tucanos poderiam divulgar mais a proposta em entrevistas e pronunciamentos públicos. Em entrevista exclusiva à Folha , Maluf diz que o adiamento da votação para 1997 -possibilitando a reeleição do presidente e dos governadores, mas não dos atuais prefeitos- seria um "casuísmo". A seguir, os principais trechos da entrevista concedida por Maluf em seu gabinete na quinta-feira. Folha - Qual é a situação da dívida de São Paulo e qual a situação financeira que o próximo prefeito vai encontrar? Paulo Maluf - As finanças estão em ordem. A prefeitura paga absolutamente em dia. O que eu posso dizer é que, se for comparada a dívida de hoje com a receita de hoje, o percentual é menor do que aquilo que há tempos. Folha - O senhor fez uma série de grandes obras viárias. O custo dos projetos não pode prejudicar a futura administração? Maluf - Quando eu fui prefeito de São Paulo da outra vez, a cidade tinha 500 mil automóveis (em 1970). Em 1995, tem 4,5 milhões. O fato é que 20% da produção automobilística nacional e da importação fica na cidade de São Paulo. Mil carros por dia são lacrados na cidade de São Paulo. Não adianta sonhar. Tire essas obras por uma semana e veja se você conseguiria morar na cidade. Folha - A Folha publicou dados sobre gastos com publicidade em 95... Maluf - ...uma parte da chamada publicidade são editais que nós somos obrigados a publicar. Em segundo lugar, tem propagandas institucionais. Não é uma propaganda do prefeito, não tem fotografia, não tem nada. A administração tem de explicar o que está fazendo, porque senão, inclusive, corre o risco de ter uma informação perversa. Por quê? Porque a imprensa brasileira de hoje é "denuncista", não é informativa. A prefeitura não faz propaganda, a prefeitura tem editais e tem um pedaço que é informação. E a prefeitura tem o que mostrar. Folha - Passa de 200%, em dólar, a diferença dos gastos de publicidade da prefeitura em 95 comparados com os do último ano da gestão Luiza Erundina. Maluf - Então nós fomos realmente muito acanhados. Porque nós fizemos 4.000% a mais do que a gestão anterior. Se gastamos só 200% com propaganda, fomos muito parcimoniosos. Folha - A Folha divulgou também que o gasto da administração com a publicidade do projeto Cingapura representou, em 95, 10% do custo total... Maluf - Dá licença. Isso é a meia verdade. Quando nós fizemos o nosso projeto (Cingapura) houve desdém, houve menosprezo. Por quê? Porque me parece que a imprensa é só denuncista. Se o Maluf morresse durante a construção de um projeto Cingapura, o projeto seria famoso. Mas, como não morreu ninguém, o projeto não era levado a sério. E é o melhor projeto de habitação que existe sob o aspecto social. Nós não pegamos 10% para alavancar 90% de dívida. Nós bancamos os 100%. Nós tivemos que bancar todo o projeto e tivemos que mostrar, comunicar, sim senhor, por causa da censura da imprensa. Folha - A administração agora, porém, vai receber R$ 72 milhões do governo federal para o projeto Cingapura. Maluf - Agora sim. Foi reconhecido pelo ministro José Serra, foi reconhecido pelo coordenador do sistema de habitação do Estado, André Franco Montoro Filho. O que importa não é o número. O que importa é que eles reconheceram que o projeto é bom. Tivemos um aval muito melhor que o do governo, o do BID. O BID é um banco sério e frio. Não tem empréstimo político. Ou o projeto é bom, ou eles não dão o dinheiro. Folha - Como o sr. tem acompanhado a questão da reeleição? Maluf - Eu gosto muito do presidente. Ele está fazendo uma grande obra. Acontece o seguinte: tudo na vida tem um calendário. Folha - Para o presidente não. Maluf - Sim, mas a reeleição só para o presidente é casuísmo. A reeleição é para o Executivo. É assim que é no mundo. Vale para prefeito, governador e presidente. Folha - Pela avaliação do sr., não há mais tempo este ano? Maluf - O que eu acho é que, se o processo tivesse começado em setembro, o tempo estaria mais folgado. Agora o tempo está muito apertado. Eu nunca lutei pela reeleição do Paulo Maluf. O meu problema é dogmático. A reeleição é uma unidade de medida da administração. Eu nunca trabalhei pela reeleição, eu trabalhei duríssimo para que minha administração seja reconhecida. Se ela for reconhecida, eu terei um capital eleitoral para o futuro, porque o povo não esquece. E se aquele que sentar na minha cadeira não tiver a mesma agilidade que eu aí então eu, sob aspecto eleitoral, vou até ser privilegiado. Em 97 e 98 então eu vou trabalhar. Folha - Para o governo do Estado... Maluf - Eu, para trabalhar, não preciso de um cargo. Posso dar aulas em universidades, posso dar aulas inaugurais, dar entrevistas, posso dar aulas em Brasília. Folha - Pode presidir o PPB? Maluf - Ele está bem presidido hoje pelo Esperidião Amin. Folha - O presidente da Radiobrás idealiza um programa para defender a reeleição. Isso caberia aos partidos... Maluf - Não, nem isso. O próprio presidente, por que não? Ele não se encontra todos os dias com os repórteres, os governadores, os prefeitos? Não fala todo dia com a imprensa? O Mário Covas não fala? Você não acha que uma declaração do Eduardo Azeredo não seria aceita com um bom destaque? Folha - O PPB terá candidato próprio a prefeito de São Paulo? Maluf - Deve ter. Quem decide é o partido. Eu acho que deve ter. Folha - Com quais alianças? Maluf - Pode ser com alianças também. Folha - Fala-se que o senhor apóia a tese de o PPB lançar um candidato próprio no primeiro turno e, no segundo turno, apoiar um candidato do PSDB... Maluf - Por que não pode ocorrer o contrário? Por que não pode acontecer de o PSDB apoiar o PPB no segundo turno, como aliás eu dei o apoio para o Covas? Não pode haver a recíproca? Folha - Mas o PSDB tem mais densidade hoje do que o PPB. Maluf - O que eu vi no Datafolha não indica isso. O que eu vi é que o candidato do PSDB (Sérgio Motta), está se falando, tem 3%. Folha - E o do PPB? Maluf - Eu trabalho hoje não só com a pesquisa quantitativa, eu trabalho com a pesquisa qualitativa também. É preciso saber quais são as aspirações da população hoje. Se a população quer saúde pública, o candidato é um; se quer casa popular, o candidato é outro; se quer obra viária, outro. Folha - O senhor pode vir a apoiar um candidato do PSDB no primeiro turno? Maluf - Nós do PPB devemos ter um candidato, é só isso que eu posso dizer. Folha - O senhor conversou com Antonio Ermírio de Moraes para a disputa da prefeitura? Maluf - Acho que é um grande candidato. Não houve conversa. Mas é um candidato que poderia vir a apoiar. É um homem de bem, é honrado, é realizador. Folha - Como será a participação do sr. na campanha? Maluf - A participação da pessoa física do Paulo Maluf. O prefeito e a prefeitura não participam. Folha - Geralmente, em São Paulo, um ocupante de cargo não consegue transferir voto para seu candidato. Maluf - Não é só São Paulo. O poder de transferência é proporcional à personalidade de quem quer transferir e também ao tipo de eleitor. O que sinto é que tenho hoje um respeito, que até em campanhas atrás não tinha. Eu diria que é possível hoje transferir para parte do eleitor. Mas o candidato também tem de fazer campanha. Texto Anterior: 'Voz do Brasil' deve ser flexibilizada, diz Motta; Simon quer convidar Frossard para exposição Próximo Texto: Dívida da cidade cresceu 48% Índice |
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