São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Governo propõe limites para TVs a cabo

ELVIRA LOBATO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma norma do Ministério das Comunicações, divulgada sem alarde no final de janeiro no "Diário Oficial", caiu como uma bomba no mercado de TV paga por cabo. Ela propõe limites para concentração que freiam o avanço das Organizações Globo no setor.
Pela proposta, cada entidade ou afiliada poderá explorar o serviço de TV paga por cabo em no máximo sete cidades com população superior a 1 milhão de habitantes.
Há limite também para cidades com população entre 300 mil e 700 mil habitantes. Neste caso, a concentração máxima permitida por grupo é de 21 municípios.
Embora os limites sejam altos, eles afetam a estratégia da Globo, que já explora TVs a cabo em seis cidades com população superior a 1 milhão de habitantes: Belo Horizonte, Rio, Brasília, Curitiba, Porto Alegre e São Paulo.
Além dessas seis localidades, a Globo tem participação na TV a cabo de Campinas, que, segundo dados estimados do IBGE, já está com população próxima a 1 milhão de habitantes.
O simples crescimento da população de Campinas fará com que a Globo atinja o limite máximo permitido para as grandes cidades.
Com isso, ela seria impedida de participar das futuras concorrências para concessões de TV a cabo em Salvador, Belém, Manaus, Recife e Fortaleza, todas com mais de 1 milhão de habitantes.
Os parâmetros propostos pela norma são iguais aos fixados pelo Ministério das Comunicações em 1994 para impedir a excessiva concentração das TVs pagas com transmissão por microondas, sistema conhecido por MMDS, hoje dominado pelo grupo Abril.
Ao usar a palavra "afiliada", a norma complementar da TV a cabo, recém-divulgada, atinge a Globo e seus dois grandes aliados nas operações de TV a cabo: os grupos Multicanal e RBS (Rede Brasil Sul). A norma não diz o que significa a palavra "afiliada", mas ela já foi explicitada na portaria 43/94, que regulamentou as TVs pagas por microondas.
Pela portaria, se uma empresa detiver (diretamente ou através de algum de seus sócios) pelo menos 20% das ações com direito a voto de outra, possuir diretor ou dirigente em comum ou se houver relação financeira ou de comércio que denote controle de uma sobre a outra, está configurada a situação de "afiliada".
Por esse conceito, a Globo, a Multicanal e a RBS serão tratadas como um único grupo. Os três grupos dominam os mercados em todos os grandes Estados onde o serviço já está instalado, como Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, além do Distrito Federal.
Os três grupos são sócios na Net Brasil, que vende programação para as operadoras e a Globo Cabo (da família Marinho), tem 30% de todas as TVs a cabo controladas pela Multicanal (do empresário Antonio Dias Leite Neto e do GP Garantia) e 40% das concessões da RBS, da família Sirotsky.
A divulgação de uma norma com limites de concentração surpreendeu o mercado, porque as grandes operadoras julgavam ter convencido o governo do contrário. No ano passado, durante a discussão do regulamento da Lei da TV a cabo, o ministério propôs limites de concentração, que foram abolidos do texto final.
O regulamento, divulgado no final de novembro, deixou claro, porém, que o ministério estabeleceria normas complementares para coibir abuso do poder econômico e estimular a livre concorrência.
Nos últimos meses, o processo de concentração de mercado aumentou. A Net comprou o controle das TVs a cabo de Brasília, Piracicaba, Belo Horizonte e o da TV Cabo Rio -aquisições estimadas em US$ 100 milhões.
O grupo Abril (família Civita) é a segunda operadora de TV paga por cabo do país, mas ainda está distante do grupo ligado à Globo e de atingir os limites propostos na norma. Tem nove concessões no interior do Estado de São Paulo, em sociedade com o grupo Bell Canadá, uma na capital paulista e outra em Curitiba.
Embora esteja longe dos limites previstos para as operações de TVs a cabo, o grupo Abril está em posição semelhante ao da Globo no mercado de TV paga por microondas.
O grupo, com a TVA, é sócio de concessões de MMDS em São Paulo, Rio, Brasília, Belém, Curitiba e Porto Alegre, ou seja, em seis cidades com mais de 1 milhão de habitantes. Tem ainda concessão em Goiânia, com população estimada próxima a 1 milhão de pessoas -ou seja, à beira de atingir o teto de operações com microondas em grandes metrópoles.

Texto Anterior: 'Bicada de tucano não machuca'
Próximo Texto: Associação discorda dos limites
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.