São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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50% dos carnavalescos de SP são do Rio

JACQUELINE LATTARI
DA REPORTAGEM LOCAL

As escolas do Grupo Especial de São Paulo foram buscar no Rio a esperança de ganhar o título. O quadro de carnavalescos é 50% composto por profissionais importados. Se o número de "estrangeiros" determinar as campeãs, Pérola Negra e Vai-Vai são as favoritas.
No mercado do Carnaval, ninguém fala em salários. Joãosinho Trinta, que trabalha como carnavalesco da Nenê de Vila Matilde, uma das escolas mais tradicionais de São Paulo, afirma que não está sendo remunerado. Mas no barracão da escola afirmam que Trinta está recebendo R$ 150 mil.
A Pérola Negra foi a mais ousada. Para garantir sua permanência no Grupo Especial, além do carnavalesco Wanny Araújo, trazido da Viradouro há quatro anos, contratou neste ano o mestre-sala Dionízio Mendes, a porta-bandeira Maria Elizabete dos Santos, e o intérprete do samba-enredo Maurício Cem. Todos são da União da Ilha, escola do Grupo Especial do Rio.
"O mestre-sala de São Paulo é tão bom quanto o do Rio, mas a dança do Rio é mais técnica, tem um ritmo diferente, a bateria é diferente", afirma Mendes. Segundo ele, o salário não é milionário, mas vale a pena. Mendes também produziu a coreografia da comissão de frente da escola.
Rosane Maria do Brasil, vice-presidente da Pérola, afirma que a busca desses profissionais foi um investimento. "Eles entendem muito e vivem disso. Queríamos um mestre-sala e uma porta-bandeira que levassem um bom Carnaval para a avenida. Não tivemos tempo de fazer um concurso, então fomos buscá-los", disse.
A Vai-Vai contratou no Rio, além do carnavalesco, cinco profissionais para o barracão. "Nós trabalhávamos com o mesmo carnavalesco havia dez anos, mas ele perdeu a criatividade. Fomos buscar alguém para dar uma guinada na escola", disse o presidente da Vai-Vai, Sólon Tadeu Pereira.
Segundo ele, a diretoria preferiu contratar um carnavalesco do Rio para que os profissionais que já trabalham na escola aprendessem com sua experiência.
A Vai-Vai investiu R$ 1,5 milhão neste Carnaval, segundo Pereira, que não quis revelar o valor pago ao carnavalesco Cidinho de Ramos. Pereira garante, no entanto, que o preço de Ramos foi mais acessível do que o de um profissional de São Paulo. "Nós o presenteamos com um carro zero-quilômetro por seu empenho", disse.
O custo da mão-de-obra no barracão da Vai-Vai gira em torno de R$ 300 mil, segundo o presidente.
Já a Gaviões da Fiel, a Camisa Verde e Branco e a Tom Maior não têm ao menos um profissional "importado" do Rio.
"É um absurdo pagar um preço astronômico por um carnavalesco do Rio quando as escolas de São Paulo sobrevivem com uma verba ridícula de R$ 60 mil", disse Marko Antônio da Silva, presidente da Tom Maior.

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