São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996 |
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Namoro por correspondência leva ao altar
PAULO SAMPAIO
O anúncio, tipo standard, vinha com as medidas de Marjorie, suas intenções de conhecer rapazes com idades entre 28 e 32 anos e o endereço dela no Brasil. Apareceram mais de 30 cartas-respostas. "Selecionei apenas cinco, porque as outras eram muito maliciosas. Perguntavam o tamanho da minha bunda e coisas assim." Desses cinco, só três desenvolveram a correspondência. Dos três, sobrou um. Quem ajudou na decisão foi a mãe de Marjorie. "Mamãe foi visitar minha irmã, que mora na Inglaterra, e eu mandei presentes para os três. Ela almoçou com eles, separadamente, e depois me mandou um fax falando bem do Adam", diz. Marjorie marcou encontros com os três pretendentes no Brasil. "O primeiro veio em setembro, o segundo em outubro e o terceiro em novembro de 94", diz. "Minha mãe estava certa: com o Adam foi empatia à primeira vista." Os dois passaram um tempo em Porto Seguro, se "testando". "Eu gostava dela, mas nunca tinha tido uma relação de mais de três meses com alguém", diz Adam. Ele voltou para a Inglaterra e logo depois chamou Marjorie para visitá-lo. Em duas semanas a pediu em casamento. Essa não foi a primeira experiência de Marjorie Abuleac com namoro por correspondência (leia depoimento). Foi apenas a primeira que "deu certo". Sim, casamentos por correspondência podem dar certo. O do comerciante M.M., 57, com R.M., 56, por exemplo, já dura 38 anos. M. e R. moravam em cidades vizinhas, no interior de São Paulo, e se conheceram pela revista "O Guri". "Eu era de Campinas, ela de Mogi Guaçu", diz M.. Eles se corresponderam durante um ano até que veio o primeiro encontro, em Campinas. "Combinamos de assistir o filme 'Rapsódia', com Elizabeth Taylor", diz R.. Os dois se casaram em um ano. A carioca Andréa Marques, 32, não tinha intenção de arranjar um namorado quando começou a se corresponder em 1991 com o galês David Giren, 37, dono da loja CDX-Classico, em Cardiff (País de Gales). "Ele era anunciante da revista Gramophone, que eu assinava e que publicava artigos sobre música celta e medieval." David ficou encantado com os conhecimentos dela. "As cartas foram aumentando em frequência e tamanho. Cheguei a receber uma de 43 páginas", diz Andréa. Os dois combinaram de se encontrar nas férias dela, depois de dois anos de cartas. "Já conhecia ele de foto: tinha cabelos pela cintura, roupas sempre pretas e morava em um lugar com paredes, teto e móveis pretos. Não era bem o meu tipo, mas eu estava completamente apaixonada pela situação." Andréa foi para Londres e o namoro teria virado casamento, se David tivesse "os pés na terra": "Ele continuava a se relacionar comigo na fantasia, passando por cima das nossas diferenças." O romance terminou quando ela voltou ao Brasil. "Sofri muito, mas foi melhor assim", diz Andréa, que guarda as cartas até hoje. A mineira de Ihapim (norte do Estado) Cândida Chagas, 56, "namorou" três anos com um rapaz de Assis (interior de São Paulo), só por carta, sem nunca tê-lo visto. Ela jamais ouviu a voz dele. "Eu tentava marcar encontros, dava o telefone, mas ele fugia." Tudo começou em um programa de rádio, há dez anos, e terminou porque ela achou que não tinha futuro com ele. "Mas ainda guardo todas as cartas", diz Candinha. "Mais de 200." Texto Anterior: Médico quer ser presidente da Rússia; A FRASE; O NÚMERO; Pesquisa muda uso combinado de droga; Nova especialidade pode evitar cirurgias; Bioética é tema de reunião em SP Próximo Texto: DEPOIMENTO Índice |
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