São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Paulista não tem tempo para aprender o samba'

DA SUCURSAL DO RIO

O avanço dos paulistas no desfile do Rio sofre a resistência de alguns carnavalescos de grandes escolas de samba. É o caso de Joãosinho Trinta, da Viradouro.
São dois os motivos que Joãosinho Trinta alega para comemorar a ausência quase total de paulistas na Viradouro. "Primeiro, espero que os paulistas desfilem na Neném da Vila Matilde, onde também sou carnavalesco", diz.
A segunda razão é o medo do efeito da presença de estranhos na evolução da escola. "Não tenho nada contra os paulistas, mas eles não têm tempo para aprender o samba, freqentar os ensaios", diz Joãosinho.
Segundo o carnavalesco, a Viradouro terá entre 4.500 e 5.000 componentes, quase todos da comunidade, no subúrbio de Niterói.
"É muito importante ter o passo da comunidade, para garantir um espetáculo inteiro, enraizado." Joãosinho não permite estrangeiros no desfile. Segundo ele, "é muito grande o prejuízo em termos de evolução, de harmonia, e tira a força, a alma grupal".
Na opinião de Joãosinho, as escolas que abriram demasiadamente o desfile a pessoas de fora "não têm mais a força e o brilho que tinham A Beija-Flor, escola que projetou internacionalmente o talento de Joãosinho Trinta, tem hoje um carnavalesco que pensa o contrário. Para Milton Cunha, '• lugar onde a pessoa nasceu não atrapalha nada".
"Basta a pessoa ser alegre, evoluir com vontade. O carioca tem o ziriguidum mais na ponta do pé, mas qualquer um pode se divertir.
Basta cantar o samba e se entregar", afirma Cunha.
O carnavalesco da Mangueira, Oswaldo Jardim, comemora o fato de a Mangueira ter abandonado a intenção de atrair componentes de São Paulo, que marcou o marketing da escola nos últimos três anos. A escola terá 5.000 integrantes.
"Parece que este ano eles foram todos para o Salgueiro. A comunidade está muito mais presente este ano, o que torna o espetáculo mais original", afirma Jardim. "Não acho legal alguém comprar um kit e fazer dublagem na avenida."
No Salgueiro, onde os paulistas representam 1.100 dos 4.500 componentes, o carnavalesco Fábio Borges diz que discorda "completamente" de Joãosinho Trinta. Segundo ele, "todo ser humano tem direito de desfilar".
"Sou contra qualquer tipo de discriminação. Até os estrangeiros são seres humanos e merecem desfilar, desde que aprendam o samba e sejam animados e não comprem o kit no aeroporto, de última hora", afirma Borges.

Texto Anterior: 'Não precisamos de mão-de-obra do Rio'
Próximo Texto: Sair em bloco de Salvador custa até R$ 900
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.