São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Não verás país como este

JUCA KFOURI

Meu filho, em seu país sempre nasceram alguns dos melhores jogadores de futebol do mundo. Aliás -é curioso, e não me pergunte por quê-, nós, brasileiros, temos uma habilidade especial em boa parte dos esportes coletivos com bola. Com o pé e com a mão.
Não é verdade, no entanto, que sejamos os únicos, os reis da cocada preta. Tome cuidado com o ufanismo. Ele cega. Nosso basquete masculino, por exemplo, é de bom nível, mas o norte-americano é de outro nível, bem acima.
O vôlei das cubanas ainda é insuperável e o dos italianos também tem sido superior ao nosso.
É claro que, se você fizer um ranking envolvendo futebol, vôlei e basquete para homens e mulheres, é bem possível que o Brasil fique em primeiro lugar no cômputo geral, porque -exceção feita ao futebol feminino e, às vezes, ao basquete masculino- no futebol para homens, vôlei para os dois sexos e basquete feminino, faz tempo que estamos entre os primeiros.
Podemos dizer, em resumo, que nesses esportes fazemos parte do Primeiro Mundo.
Assim é, também, em relação à nossa música, à propaganda que aqui se produz, ao padrão de televisão de uma Rede Globo, à qualidade e circulação de alguns de nossos veículos de imprensa, Folha e "Veja" principalmente. Enfim, com todos os nossos problemas, temos do que nos orgulhar.
Jô Soares é um "showman" para qualquer canto do mundo. Luís Fernando Veríssimo só não é um nome planetário porque escreve em português.
Pelé é Pelé em qualquer língua e Fernando Henrique Cardoso tem porte de estadista como poucos pela Terra afora, embora as relações entre o presidente e Veríssimo não sejam exatamente das melhores.
E por que tudo isso num domingo de futebol que tem Fla-Flu e Santos x Corinthians? Para fugir do enrosco que é fazer previsões do tipo "bicho certo na Vila Belmiro"?
Seguramente, não. É que, de repente, bateu uma vergonha danada por causa dessa discussão envolvendo o clipe de Michael Jackson e Spike Lee na favela.
Até me lembrei de Lee, contagiado pelo samba nas Olimpíadas de Barcelona, torcendo de camisa amarela pelo vôlei brasileiro contra seus patrícios.
Bons de bola e avestruzes, nós? Em vez de erradicar a pobreza devemos proibir que a mostrem?
Esquece, filho. Eles não se importam com a gente.

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