São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Mediadores

SÍLVIO LANCELLOTTI

Um grande mediador da década de 80, nos últimos anos o italiano Paolo Casarin se transformou no principal teórico do apito em todo o planeta. Encarregado pela Fifa de unificar os critérios das arbitragens para a Copa da Bota, em 90, Casarin logo se provou um criador de teses até então revolucionárias.
Nasceu dele a idéia dos testes físicos de suficiência e de avaliação do fôlego de seus colegas. E a idéia da inversão de um velhíssimo conceito -hoje, na dúvida, o mediador deve decidir em favor do ataque. E a mudança mais crucial na interpretação das regras do futebol nos tempos recentes -o fim do impedimento do atacante na mesma linha do último adversário.
Também foi Casarin quem estimulou a Fifa a adotar as suas novas diretivas antiviolência, como a expulsão automática nos casos de falta cometida pelo último defensor, ou como o cartão amarelo obrigatório nas infrações pelas costas. Ainda, foi Casarin o inventor da expulsão automática do arqueiro que derruba o inimigo ou toca a pelota com as mãos além dos limites de sua grande área.
A sua independência e o seu caráter fizeram com que a Fifa o excluísse das suas funções de supervisão nos entornos da Copa de 94, nos EUA. A federação da Bota, todavia, não hesitou em reaproveitar os seus ensinamentos. Hoje Casarin comanda a comissão nacional de árbitros da Bota. Na Itália, sua palavra tem o valor de lei.
Atualmente, Casarin está empenhado em forçar os seus colegas a prestarem o máximo de atenção nos escanteios. "Habitualmente, somos tolerantes em demasia com os zagueiros que abraçam os atacantes na cobrança dos escanteios", observa. "Tais agarrões, obrigatoriamente, devem ser punidos com a marcação de um pênalti. Não existe alternativa."
Casarin, aliás, não gosta da expressão "mediador". Afirma ele que um árbitro precisa se comportar, mesmo, e sempre, como um fiscal de regras. "O mediador administra. Um fiscal, bem mais profundamente, exige o cumprimento das regras -e pune, dentro das regras, os seus infratores."
Para o italiano, que se recusa a discutir a eventual má fé de seus colegas, todo o problema se resume numa frase: "Os árbitros de hoje sabem como aprimorar o preparo físico. Ainda não aprenderam, porém, a aprimorar a cabeça. Os reflexos". Em tempo: Casarin não teria marcado, como fez Léo Feldman, o suposto pênalti do africano Kennedy no último prélio entre Santos e Portuguesa.

Notas
De novo se contundiu gravemente o fogoso volante Nicola Berti, da Inter de Milão e da seleção da Itália. Mal recuperado de uma fratura, num treinamento de seu clube, Berti pisou num buraco e rompeu o menisco e os ligamentos cruzados do joelho. Nos próximos dias, sofrerá uma cirurgia, delicadíssima, em Vail, no Colorado, EUA. Apenas retornará aos campos na próxima temporada.

Só mesmo um improvável maremoto na Ibéria impedirá o Atlético de Madrid de conquistar o título do campeonato espanhol de 1995/96, laurel que o clube da capital não ganha desde 1977, quando dispunha dos brasileiros Luís Pereira e Leivinha. O Barcelona, seu principal rival, 11 pontos atrás, não ganha um jogo fora de casa desde o mês de setembro. O Real Madrid, pior, está 16 atrás.

Fiorentina e Parma, 38 pontos, 5 atrás do Milan, brigam pela sobrevivência no campeonato da Bota. Além de atuar em casa, diante da torcida mais agitada da Itália, a Fiorentina leva a vantagem de receber um adversário em curiosa crise. Seu treinador, Nevio Scala, anda furioso com a diretoria do clube, que já teria contratado Louis van Gaal, do Ajax Amsterdam, para o próximo certame.

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