São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Governo reconhece a ameaça do separatismo

Pequim ameaça "esmagar" atividade de grupos rebeldes

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A China, dona de um mosaico de 56 etnias, começou 1996 preocupada com o separatismo. No mês passado, o governo, acostumado a descrever o país como um "paraíso de convivência" entre diferentes grupos étnicos, reconheceu a ameaça ao poder central e prometeu "esmagar" a atividade de grupos que buscam sair do controle de Pequim.
País mais populoso do mundo, com 1,2 bilhões de habitantes, a China carrega um diversificado mapa étnico. Quem encabeça a lista e detém o poder político e econômico é a etnia han, 92% da população, enquanto o restante, 96 milhões de pessoas, se divide entre 55 minorias que vivem sobretudo nas regiões de fronteira.
Entre as minorias, existem budistas, como os tibetanos e mongóis, dez grupos muçulmanos, como os uigures e os cazaques, e até comunidades de cristãos ortodoxos, como os russos e os evenki. Idioma também funciona como diferencial, pois entre as 55 minorias, apenas duas (manchu e hui) também registram como língua materna o chinês da etnia han.
O Partido Comunista da China assiste com preocupação à crise de países multiétnicos neste final de século. A desintegração da União Soviética, da Iugoslávia, da Tchecoslováquia e o atual desafio tchetcheno à Rússia tiram o sono dos estrangeiros em Pequim.
No poder desde 1949, o Partido Comunista segue implacável na perseguição à grupos que questionem o seu monopólio de poder ou desafiem sua política para manter as etnias sob controle de Pequim.
"A unidade nacional está sendo fortalecida e reforçada", declarou no mês passado Ismail Amat, ministro encarregado das questões étnicas. Um integrante da minoria uigur, ele admitiu a existência de "algumas pessoas isoladas" que, na China e no exterior, buscam destruir a "união do país".
Amat, 60, continuou o ataque: os separatistas representam uma minoria no seu grupo étnico. "Podemos contar com a força da maioria para esmagar tais atividades separatistas", declarou.
Embora Pequim ainda mantenha a situação sob controle, as declarações de Amat funcionam como prova das preocupações do governo. Os comunistas temem que o nacionalismo, estimulado pelo fim do embate ideológico da Guerra Fria, encontre terreno fértil na China.
Os nacionalistas das minorias chinesas se apóiam na onda ideológica deste fim de século e em aspectos internos do país mais populoso do mundo, como a distribuição dos resultados das reformas pró-capitalistas iniciadas em 1978.
A riqueza concentrada no leste do país, onde predomina a etnia han, contrasta com a pobreza que impera no oeste, região de tibetanos e muçulmanos. Amat reconheceu o problema, mas ressaltou esforços do governo para apagar o desequilíbrio e observou que as diferenças eram maiores no passado.
O Partido Comunista argumenta ser o comandante de uma missão salvadora para minorias que viviam sob regimes feudais até 1949, ano da revolução. Era o caso, por exemplo, de tibetanos e mongóis. Os comunistas ainda acenam com a melhoria das condições de vida dessas etnias por meio da construção de casas e estradas e da instalação de linhas telefônicas em regiões remotas.
Os nacionalistas qualificam a missão comunista de colonizadora. Apontam as dificuldades impostas para praticar sua religião sem intervenção do governo, a imposição de padrões educacionais importados de Pequim e a manutenção de postos políticos mais importantes nas mãos de integrantes da maioria han, mesmo em regiões habitadas por minorias étnicas.
Embora trate as minorias com mão pesada nos mundos da política, da cultura e da religião, o governo comunista tenta diminuir tensões ao oferecer um cardápio de concessões.
Uma delas aparece na política governamental de controle de natalidade, conhecida como "um casal, um filho". As minorias podem ter famílias com duas ou até mais crianças.

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