São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996 |
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Líder do neocomunismo se diz 'privatizante'
CLÓVIS ROSSI
É um rosto maciço, redondo, avermelhado, tipicamente russo, com olhos azuis e calvície avançada. Pertence a Guennadi Ziuganov, 51, secretário-geral do Partido Comunista da Rússia. Ziuganov foi a sensação do recém-encerrado Fórum Econômico Mundial 1996, a maior concentração de executivos do planeta. Não parou de dar entrevistas para os meios de comunicação ocidentais. Ganhou até a capa na edição européia do jornal "The Wall Street Journal", autor da melhor definição para o que contém a nova face do comunismo: "Ele sabe como falar aos trabalhadores e aprendeu como evitar ofender os banqueiros em Davos" (cidade suíça onde ocorreu o fórum). Maneira elegante de dizer que Ziuganov diz o que cada interlocutor quer escutar. É capaz, por exemplo, de se dizer "privatizante". O que não significa que o Estado não deva controlar setores básicos, como energia, ferrovias e a produção militar. Oferece ao empresariado a lei e a ordem, o que deve soar como música aos ouvidos deles. Basta pensar na suíça Curti Medien, que colocou US$ 50 milhões em operações varejistas na Rússia, emprega mil pessoas, teve rendimento de US$ 50 milhões em 1995, mas está pensando em sair. "Nossa existência está sob ameaça", diz o presidente Beat Curti. O crime organizado já matou 140 mil pessoas nos últimos anos, nas contas de Ziuganov, "mais do que a União Soviética perdeu de soldados no Afeganistão", faz questão de lembrar o líder do PC. Entre o mortos, 48 banqueiros. Por isso mesmo, Ziuganov diz que uma de suas primeiras ações como presidente será um pacote de leis para proteger advogados e juízes, "indispensáveis para combater a corrupção e a criminalidade". Ziuganov é manso sobre o que mais lhe foi perguntado em Davos: a volta da União Soviética. "Será voluntária", responde. Faz mais sentido sua defesa de um mercado comum entre a Rússia e Belarus, Ucrânia e Cazaquistão. Para afastar de vez o temor do ressurgimento da União Soviética, desenha o que chama de "nova geometria" do poder mundial. Define os EUA como líder, mas lista, em seguida, vários outros poderes: União Européia, China, Japão, Índia, "o Brasil, que está vindo de trás muito velozmente". E "é cedo para afastar a Rússia". "Qualquer matemático sabe que, com duas incógnitas numa equação, fica dificílimo resolvê-la. Nessa nova equação de poder, há umas dez incógnitas". Fecha o raciocínio com a afirmação de que, nessas circunstâncias, "voltar ao mundo bipolar (EUA x URSS) é bobagem". Texto Anterior: Escândalos poupam Elizabeth, diz autora Índice |
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