São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Mão visível

O presidente Fernando Henrique Cardoso resolveu mostrar em alto e bom som que o Estado brasileiro está vivo. Mais, pretende sinalizar que é o governo quem vai se empenhar para deflagrar uma nova etapa de crescimento econômico.
Numa época em que o mais comum é falar de austeridade e ganhos de eficiência, corte de gastos no Orçamento e necessidade de arrecadar mais, o presidente lembrou que dispõe de um importante instrumento de gasto público com recursos extra-orçamentários. São cerca de R$ 27 bilhões distribuídos este ano pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES, com orçamento de quase R$ 11 bilhões), Caixa Econômica Federal (CEF, com R$ 4 bilhões) e ainda os recursos das empresas estatais (R$ 12 bilhões).
Ao mesmo tempo, parece estar ressuscitando no governo a idéia de que o que for porventura arrecadado com a privatização de empresas estatais deveria ser usado em projetos de investimento, não no abatimento da dívida pública, como até há pouco se acreditava. A venda de uma Vale do Rio Doce, por exemplo, acrescentaria até mais R$ 10 bilhões de recursos ao arsenal do governo.
Criação de empregos, estímulo às micro e pequenas empresas, recuperação da infra-estrutura e reestruturação produtiva aparecem como prioridades no discurso oficial.
O estratégia não é nova. A mão do Estado brasileiro, aliás, foi bem longe no passado recente, sempre sob o pretexto de fazer a economia "decolar". Agora há ingredientes novos, ao menos na retórica, como a busca de prioridades sociais ou luta contra desigualdades regionais.
Há também ingredientes velhos, como o expediente de, mais uma vez, buscar recursos no exterior para dar andamento aos vários projetos (o BNDES pretende exigir de empresas, como contrapartida de seus empréstimos, que elas captem também no exterior, coisa que as estatais também voltaram a fazer).
Numa época em que predominam o discurso e a prática liberal, o governo tucano volta a dar destaque à mão visível do Estado. O que é obviamente um retrocesso.

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