São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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A volta da malandragem

FERNANDO RODRIGUES

BRASÍLIA - Esta coluna começa hoje com uma pergunta: é um bom negócio dar 12% da sua remuneração total durante 35 anos (homens) e 30 anos (mulheres) em troca de uma aposentadoria mensal, vitalícia, igual ao último salário integral?
A maioria certamente responderá afirmativamente à indagação feita no parágrafo anterior. Claro, pois a aposentadoria máxima paga pelo INSS é hoje de R$ 832,66.
Pois bem, os funcionários públicos brasileiros podem se aposentar assim, com o salário integral. Por algum motivo obscuro, o relator da emenda que muda a Previdência, o também obscuro deputado federal Euler Ribeiro (PMDB-AM), manteve o privilégio.
Indefensável, a vantagem para esses cidadãos de luxo será amenizada, segundo Euler Ribeiro. Os funcionários públicos terão de ficar dez anos em um mesmo cargo para se aposentarem com o salário integral.
A precaução era necessária porque muitos servidores eram promovidos na noite anterior à aposentadoria. Para ter um salário de marajá quando parassem de trabalhar oficialmente.
Não é a mudança ideal, mas seria alguma coisa. Na semana passada, soube-se que o sombrio Euler escondeu de todos uma pequena alteração que introduzira em seu texto.
Para funcionários de baixo escalão, os de salários miseráveis, será obrigatório o tempo mínimo de dez anos no cargo para receber uma aposentadoria com salário integral.
Já para os mais bem-remunerados do serviço público -juízes, procuradores, fiscais etc-, bastará permanecer os dez últimos anos na mesma carreira. Um escárnio. Poderão receber aumentos às vésperas de se aposentarem.
Euler foi alertado por assessores. Por técnicos do Ministério da Previdência. Não quis saber. Sucumbiu às pressões, entre outras, da Associação dos Magistrados Brasileiros.
Vicentinho (CUT), Medeiros (Força Sindical), Reinhold Stephanes (ministro da Previdência) e FHC são, em maior ou menor grau, responsáveis pela reforma da Previdência ter resultado apenas num traque, inócuo.
Mas Euler Ribeiro, com sua malandragem final, foi a cerejinha sobre o bolo dos privilégios. A Câmara pode reparar esse e outros escândalos. Ou não.
Façam suas apostas.

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