São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
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Emprego e Bem-Estar

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - Um punhado de sindicalistas foi convidado este ano, pela segunda vez consecutiva, para participar do Fórum Econômico Mundial, a maior concentração de personalidades políticas, acadêmicas e empresariais.
O grupo saiu assustado com o que considera "uma impressionante ofensiva para afastar (da agenda internacional) tudo o que diga respeito aos temas sociais". Avaliação do francês Marc Blondel, secretário-geral da Confederação Geral do Trabalho/Força Operária.
Tem razão. A pretexto de que há, como de fato há, excessos e privilégios nos sistemas de seguridade social, o que está em curso é uma operação sem precedentes não para eliminar os excessos, mas pura e simplesmente para dinamitar o Estado de Bem-Estar onde ele existe e até onde não foi ainda criado (Brasil, por exemplo).
Em todas as mesas-redondas em que a questão surgiu, a palavra de ordem do empresariado e até dos políticos, com isoladas exceções, era a necessidade de acabar com o Estado de Bem-Estar, a pretexto de criar empregos e/ou dar competitividade às economias, em especial as européias.
O modelo geralmente citado é o norte-americano, em que a rede de proteção social é incomparavelmente menor do que a européia. Argumenta-se à exaustão que o desemprego norte-americano está em 5,5% da força de trabalho contra o dobro exatamente na Europa Ocidental.
É verdade, mas apenas a metade da verdade. O rendimento médio do norte-americano hoje é exatamente o mesmo que era há dez anos anos. E para a fatia que tem renda abaixo da média os salários são até mais baixos do que em 1985.
Ou, traduzindo: talvez pela primeira vez na história americana os filhos não estão em melhor situação do que os pais.
O problema, portanto, não é exatamente o de acabar ou não com o Estado de Bem-Estar Social, mas, como disse Jean-Claude Triché, presidente do Banque de France (o BC francês) , descobrir "onde traçar a linha divisória entre proteção social e criação de empregos".
O resto é antidemocrático, como corretamente se queixou Blondel.

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