São Paulo, domingo, 11 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

TV atrasa desenvolvimento da linguagem

OTÁVIO DIAS
DE LONDRES

Após dez anos de estudo e experiência profissional com crianças entre 9 meses e 3 anos, a fonoaudióloga britânica Sally Ward concluiu que a televisão é um dos principais fatores de atraso no desenvolvimento da linguagem.
Segundo Ward, a simples exposição ao barulho da TV por um período prolongado todos os dias é prejudicial para o aprendizado da compreensão e da fala durante os três primeiros anos de vida.
Outros barulhos, como o do rádio, também podem ter efeitos negativos. Entre os principais problemas de linguagem dessa fase estão dificuldade de compreensão e de estruturar sentenças, pouco domínio gramatical e vocabulário insuficiente.
"O silêncio é importante para que a criança possa estabelecer uma relação direta com os pais ou algum outro adulto e também para que possa se concentrar em brinquedos", disse Ward em entrevista à Folha.
Segundo a fonoaudióloga, muitos pais têm a visão equivocada de que a TV auxilia o aprendizado da linguagem. "Crianças só aprendem a compreender e a falar na relação com pessoas mais velhas, por meio da repetição."
Embora evite estabelecer um limite rígido, Ward acredita que crianças de até 3 anos devem ficar expostas à televisão durante o menor tempo possível.
"Acho que, em torno de uma hora por dia, não faz mal", disse Ward. Segundo a fonoaudióloga, depois dos 3 anos, quando as crianças já entendem os programas, a flexibilidade pode ser maior.
Segundo Ward, muitos pais utilizariam a televisão como "babysitter", uma forma de manter a criança quieta quando eles estão ocupados.
"As crianças se concentram nas cores e luzes. São absorvidas pela tela e não se relacionam com o mundo."
Segundo a fonoaudióloga, o período da vida compreendido entre o nascimento e os 3 anos são críticos para o futuro desenvolvimento social e intelectual da criança.
Atrasos no desenvolvimento da linguagem nesse período podem deixar sequelas para o resto da vida.
"Essas crianças tendem a fracassar durante a vida escolar, assim como em termos emocionais e sociais. Todo o processo educacional ficará comprometido", afirmou.
Segundo Ward, até os 3 anos é possível recuperar os prejuízos à criança.

Texto Anterior: DICAS PARA AJUDAR SEU FILHO
Próximo Texto: Psicólogos discutem resultado de pesquisas
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.