São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Não por vingança Raí é rei na França

MARCELO FROMER; NANDO REIS
ESPECIAL PARA A FOLHA

Para a dinâmica e saúde do futebol, o intercâmbio é uma grande e eficiente receita. O universo das trocas e transferências, sejam elas de caráter continental ou estadual só vem instigar ainda mais o esporte predileto das multidões.
A chegada de dois africanos para o Santos, indicações do rei negro brasileiro -Pelé- foi qualquer coisa de sensacional e inesperada.
Há tempos não fazíamos boas com os nossos arquiinimigos sul-americanos, e Silas -campeão o ano passado na Argentina- e Mancuso -agora no Flamengo- são exemplos do quanto esta troca pode ser positiva.
Ora vejam, o artilheiro maior hoje da cidade maravilhosa é -quem diria!!- goiano, embora já tenha mimetizado há muito os maneirismos do bon vivant carioca.
E, se muitos insistem em vê-lo apenas como um eficaz matador, há outros tantos que discordam profundamente: vêem no seu futebol uma sofisticação e requinte só presente em craques.
Sofre desse mesmo problema o Valdir, que veio do Rio etiquetado com a pecha de matador, mas tem demonstrado bem mais do que isso.
Em São Paulo é um paraense o responsável pelos momentos de plasticidade maior no último Brasileiro, o craque Giovanni de um Santos ainda às voltas com as farpas de seu "quase" triunfo.
E mais, há tempo temos exportado para o Japão alguns de nossos melhores jogadores, e aqueles que aparentemente não tiveram uma adaptação ajustada estão de volta!
Exemplos: Bernardão, o Gigante de Ébano que voltou ao mesmo Parque; Muller, voando baixo no Palestra; Bentinho, agora no Botafogo, e ainda Djalminha, que entre outros atributos é o melhor cobrador de pênaltis do planeta.
Aliás, essa questão do período de adaptação desses jogadores deve e tem de ser respeitada, principalmente por críticos às vezes gananciosos pelo fracasso alheio. Ainda mais no caso de transferências internacionais.
Assim foi com Raí, espinafrado pela maioria que gosta de se ver inflamada pela tolice da intolerância. Tido como acabado na França, chegou a ser chamado de grosso e sacado inescrupulosamente da seleção.
Só o tempo foi capaz de dissuadir os medíocres: hoje Raí é rei na França, desfilando seu elegante futebol na futura sede da Copa-98.
Não é regra, mas algo nos indica que devemos ter a devida paciência com Viola e até com Caio e Juninho. Por incrível que pareça, também são feitas de carne e osso essas máquinas de jogar futebol.
Agora, no capítulo daqueles que poderiam ter ido para qualquer lugar mas acabaram ficando aqui, abrimos um destaque especial para a grande e espetacular forma que atravessa esse grande e genial goleiro, o Burt Lancaster brasileiro -Zetti!!
P.S.: E viva José Poy, por tudo aquilo que fez, nos ensinando a ser menos mesquinhos com nossos vizinhos.

Nando Reis e Marcelo Fromer são músicos e integrantes da banda Titãs

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