São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Até o Rei reverenciou o gol de Marcelinho

ALBERTO HELENA JR.
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Até o Rei se ergueu para aplaudir, reverenciando a jogada que Marcelinho converteu no segundo gol corintiano. O passe perfeito de Tupã, o toque sob a bola que levitou, encobriu o zagueiro Ronaldo para cair novamente aos pés de Marcelinho que a deslocou alguns centímetros do goleiro Edinho. Talvez Pelé, naquele instante mágico, estivesse aplaudindo a si mesmo, quando num desses sortilégios da memória, ele se visse, menino, na Suécia, diante do País de Gales, no final de um dos mais duros jogos da Copa de 58, inventando um gol salvador exatamente igual.
A diferença é aquele gol nos deu a vitória e o direito de seguir em frente na Copa. E o de Marcelinho, ontem, na Vila, apenas antecedeu o empate do Santos, num clássico tórrido e tumultuado como o verão que atravessamos. Empate, aliás, que veio a calhar, pelo que fizeram as duas equipes. Quando eram 11 contra 11, o Santos foi mais incisivo. Desperdiçou, porém a vantagem de 11 contra 9, e só se reaprumou quando o resultado era igual em tudo: no jogo e nos jogadores.
É verdade que teve um pênalti claro a seu favor, no final. Mas, no rigor da análise, 2 a 2 era o que ambos mereciam.

E o São Paulo de Muricy-Telê pôs as cartas na mesa: está aí para disputar mesmo o título. Isso é o que garante a minimaratona vitoriosa empreendida por esse time na semana: quatro jogos em sete dias; quatro vitórias significativas. A primeira, porque sobre um dos mais fortes candidatos -o Santos, na Vila. A segunda, porque uma goleada de 4 a 0 sobre o Guarani de Amoroso e o escambau. A terceira, porque um massacre de 7 a 3 em cima do campeão brasileiro -o Botafogo-, pela Copa dos Campeões da Conmebol. E a quarta, no sábado, porque jogou mal e mesmo assim bateu o América, lá em Rio Preto, por 3 a 2.
Em cada jogo, uma situação diferente bem resolvida pela equipe, que, se não tem cintilantes estrelas, além de Zetti, Almir e Valdir, sabe muito bem o que deve fazer.
Não pode ser mera coincidência que, nos dois últimos anos, com o entra-e-sai de jogadores, alguns craques; outros, meia-colher, como gosta de classificar jogadores medianos o técnico Cilinho, quando nas mãos de Muricy, o São Paulo dispara na liderança para depois refluir, na volta de Telê. Nem de longe comparar o incomparável nem sequer sugerir que Telê deva ceder seu lugar ao discípulo. Mas contra os fatos não há argumento. E o fato é que esse tricolor de Muricy entra em campo sabendo exatamente o que fazer, como se posicionar, a quem cabe qual função. São quatro zagueiros de técnica limitada (Sorlei um pouco mais bem dotado), dois volantes cumpridores, dois meias ativos (um destro, pela direita -Sandoval-, outro, canhoto, pela esquerda -Aílton ou Denílson) e dois avantes velozes e incisivos, que se completam -Almir, fuçando pela direita, pela esquerda, pelo meio, e Valdir, ali, na boca da botija.
Assim, mesmo quando tudo dá errado, como sábado, acaba dando certo. É o sinal na testa.

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