São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Profissionalismo já

JUCA KFOURI

Santos e Corinthians fizeram um jogo espetacular com dois golaços para torcedor nenhum botar defeito.
O primeiro, de Marcos Paulo, pegando um chute cruzado de rara felicidade.
O segundo, de Marcelinho, digno de levar a assinatura de Pelé, depois de aplicar um chapéu de calcanhar em Ronaldo e chutar para o gol sem que a bola caísse no chão.
Além desses gols, que fazem do jogador de futebol brasileiro um atleta diferenciado, houve lances para todos os gostos, incluindo um pênalti duvidoso marcado para o Santos e outro claríssimo não marcado, quando Bernardo derrubou Arthur dentro da área.
Lances que alimentam as inevitáveis polêmicas depois de um grande clássico e sem os quais o futebol não seria tão apaixonante.
Uma pena, no entanto, que a habilidade indiscutível do nosso jogador ainda não seja acompanhada pelo necessário senso profissional -como ficou tão bem demonstrado no clássico.
Parece que o jogador perde a capacidade de pensar, como se estivesse na várzea ou fazendo um jogo entre amigos no final de semana, daqueles que servem como uma verdadeira terapia, quando casados e solteiros extravasam a agressividade acumulada no dia-a-dia.
Porque não é possível que Henrique leve o cartão amarelo que levou por jogar a bola para longe. Ou que Edmundo não se convença que desse jeito não irá a lugar algum.
Ou que Marcos Paulo e Jean joguem fora em 11 minutos uma vantagem que certamente levaria o Santos à vitória.
Tudo porque, também, os treinadores são coniventes. Candinho, do Santos, por exemplo, saiu criticando o árbitro Léo Feldman na quarta-feira, não apenas por ter marcado o pênalti de Kennedy mas, ainda, por ter dado cartão amarelo para Edinho que insistia em chutar a bola para a torcida, numa clara atitude anti-esportiva.
Profissionais do esporte devem se convencer que o show não pode parar e que são pagos para devolver em espetáculo o preço pago pelo torcedor.
Se os cartolas já são os "amadores" que são e se os árbitros também não são profissionais como seria desejável, jogadores e treinadores precisam mostrar mais respeito ao dinheiro e à paixão do torcedor.
Quando isso acontecer, um clássico como o de ontem poderá ser comentado apenas por tanta coisa boa que mostrou.

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