São Paulo, segunda-feira, 12 de fevereiro de 1996
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Cantores e deputados; Neoliberalismo; Magri e Força Sindical; Ensino jesuítico; Cachoeira da Fumaça; Sangue de calouros

Cantores e deputados
"Vemos alguns cantores populares como Gilberto Gil, Gal Costa, Milton Nascimento, Caetano Veloso e Chico Buarque se colocarem como os novos 'divos' da música brasileira. Receberam um 'cachê' de R$ 120 mil pela apresentação de três ou quatro números na homenagem póstuma a Tom Jobim. Depois que FHC, em passe de mágica cambial, igualou o real ao dólar, a turma, de cantantes a deputados, resolveu fazer a América. Os cantantes abocanharam R$ 120 mil e os congressistas farão o Brasil pagar US$ 1,4 bilhões pelo obsoleto, complexo e suspeito projeto Sivam. Para completar o ritmo louco só faltava o Amazonino Mendes pagar R$ 920 mil ao José Carreras, o mais novo garganta de ouro deste Brasil sem saúde e sem educação. Até onde irão esses inescrupulosos do dia? Estão todos proibidos de falar do Fernando Collor de Mello. Um anjo!"
Tito Livio Fleury Martins (São Paulo, SP)

Neoliberalismo
"Estou com medo de ser neoliberal. Neoliberalismo é uma filosofia essencialmente econômica; o desprezado liberalismo teve pelo menos um forte componente social. As relações públicas que tentam vender neoliberalismo como democracia aos eleitores de hoje são as mesmas que nos anos pós-guerra venderam aos consumidores o individualismo-em-massa como autenticidade e o materialismo como felicidade. Concordo com as conclusões de Otavio Frias Filho no artigo 'Sem medo de ser neoliberal' (1º/2). O último parágrafo do ensaio me deixou muito triste. Os gurus da concentração da renda estão colocando a humanidade num rumo definido matematicamente pela espiral do Arquimedes -o percurso de um pássaro voando sempre, diminuindo círculos, aumentando a velocidade, até que desaparece em si mesmo."
Hanns John Maier (Ubatuba, SP)

Magri e Força Sindical
"A coluna 'Painel do Leitor' desta respeitável Folha (da qual somos assinantes) publica em 8/2, carta do secretário-geral da Força Sindical, Enilson Simões, e a resposta da jornalista Cristiane Perini Lucchesi atribui a mim declarações acerca de articulações com o ex-ministro Magri. Sou presidente da Força Sindical em Minas Gerais, além de presidente do Sindicato dos Alfaiates e Costureiras de Belo Horizonte. Tais funções, em que pese a baixa credibilidade da Força Sindical, pelas razões apontadas por Enilson Simões, para mim exigem responsabilidade no exercício. Não falei e em hipótese alguma falaria de situações que nunca existiram. A repórter acima referida é que sugeriu isso de sua cabeça ou de outros. Nunca houve qualquer articulação com Magri. Estranho também o fato de que a mentira foi publicada no sábado, dia 3/2, dia da Plenária Nacional da CGT. A Folha foi miseravelmente usada pela turma do Medeiros. Deus ajude que isto não se repita. Todos perdem."
Antonio Carlos Francisco dos Santos, presidente da Força Sindical de Minas Gerais (Belo Horizonte, MG)

Resposta da jornalista Cristiane Perini Lucchesi - A repórter sustenta que Antonio Carlos Francisco dos Santos, o Toninho, afirmou, por telefone, no dia 1º de fevereiro, por volta de 17h, que haveria uma reunião entre os grupos de Alemão e Magri na segunda-feira, 5 de fevereiro, para discutir intervenções no congresso da CGT, que ocorrerá em abril.

Ensino jesuítico
"Publicou a Folha de 10/1 artigo do jornalista Josias de Souza sob o título 'Vai demorar', o qual diz: 'No Brasil, desde os jesuítas da era colonial, a educação jamais foi uma prioridade real. Nossa história, aliás, é marcada por uma espécie de culto à ignorância'. Realmente, isso é o que se ensinava e ainda se ensina nas nossas escolas. Entretanto, o prof. dr. Tito Livio Ferreira começou há mais de meio século a pesquisar o assunto nos arquivos e escreveu, há 30 anos, o volume 'História da Educação Lusobrasileira', no qual provou com abundante documentação histórica que a Companhia de Jesus fora contratada (isto é, paga) pelo Rei d. João 3º para que, a partir da instalação do Estado do Brasil (1548), os professores jesuítas portugueses ministrassem o ensino público gratuito em nossa terra, inclusive a catequese dos índios, situação essa que perdurou até 1759, quando a Coroa Portuguesa assumiu esse mister."
Manoel Rodrigues Ferreira (São Paulo, SP)

Cachoeira da Fumaça
"A propósito do artigo de Roberto Linsker, na Folha de 25/1 ('Grupo explora e 'encolhe' a cachoeira da Fumaça (BA)'), tive o privilégio de participar, em junho de 1960, das duas primeiras medições da Queda Glass (popularmente conhecida como Cachoeira da Fumaça), descoberta na Chapada Diamantina, na Bahia, em 15/3/60. É verdade que a Queda Glass não foi medida com a precisão do grupo de espeleólogos em sua recente expedição. Nossas medições foram feitas num avião Cessna 172 (PT-AVQ), com dois métodos diferentes, onde cada um de nós (o piloto e descobridor George Glass, um médico cirurgião, um professor de matemática, e um pastor presbiteriano) tínhamos uma tarefa específica. A primeira medição, com vôos controlados na velocidade, rumo e distância, e com um compasso didático preso a um nível de bolha, resultou na medida de 400 metros. Na segunda medição utilizamos uma máquina Contaflex com uma objetiva Tessar de 90 mm para fazermos fotos comparativas. Revelado o filme e sobrepondo fotos, chegamos à conclusão de que a Queda Glass tem 404 metros de altura. Dada a inexatidão dos dois métodos utilizados, optamos em declarar que a Queda Glass tem uma altura entre 1.300 e 1.350 pés, isto é, entre 395 e 410 metros. Mas agora, com a tecnologia disponível, os quatro adeptos do cannyoning constataram a verdadeira altura da queda-d'água: 340 metros, ainda assim a mais alta do Brasil. Parabéns aos bravos esportistas e sua equipe de apoio!"
Jaime Wright (Vitória, ES)

Sangue de calouros
"O artigo de Suzana Singer (9/2) é repugnante. Ela afirma que a parceria feita entre o Grêmio Politécnico e a Fundação Pró-Sangue não adiantou. Será que o recolhimento de 200 bolsas de sangue doados entre os calouros da Poli e, inclusive, pelos seus parentes, não adianta nada? Será que a foto tirada por este jornal representa o comportamento de todos os veteranos em relação aos seus calouros? A resposta é não. Os calouros, além de participarem da doação de sangue, ganharam sorvete e tiveram a oportunidade de participar do 'Programa Livre' (SBT, 8/2) junto com os veteranos considerados 'animais' pela autora do artigo. Além disso, a autora mostra uma certa ignorância sobre o assunto 'fechamento da Universidade de São Paulo'. A Escola Politécnica possui cinco representantes junto aos Conselhos Centrais da USP. Somos contra o fechamento da USP."
Gilberto Alvarez Giusepone Júnior, presidente do Grêmio Politécnico da USP (São Paulo, SP)

"Na condição de presidente da Associação de Doadores Voluntários de Sangue, parabenizo os Centros Acadêmicos comprometidos com os trotes politicamente corretos: doação de sangue e campanhas de solidariedade. Lamento, no entanto, que na passagem do século a recepção aos calouros seja feita de uma forma indigna, e incompatível com a necessidade da universidade contemporânea. Desejo que gestos solidários da sociedade acadêmica possam abolir imagens como a retratada pela capa da Folha de 9/2."
Wagner Ibraim Pereira, presidente da Associação de Doadores Voluntários de Sangue (São Paulo, SP)

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