São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Índios pedem saída de Santilli

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Índios xavantes do Mato Grosso invadiram ontem a Funai (Fundação Nacional do Índio) e mantiveram o presidente Márcio Santilli e três diretores do órgão como reféns por 50 minutos na garagem.
Eles protestavam contra a falta de recursos para a aquisição de carros e combustível para a prestação de assistência médica nas aldeias. Acabaram pedindo a saída de Santilli do órgão.
O xavante Gustavo Pariowá, 54, afirmou que há índios morrendo nas aldeias sem tratamento em razão da falta de enfermeiros, médicos e hospital nas administrações regionais do órgão.
Pintados para guerra e armados de bordunas (cacete) e flechas, 12 índios invadiram o gabinete do presidente por volta das 10h. Pouco depois, Santilli chegou e foi levado para a garagem.
Além do presidente da Funai, foram tomados como reféns o vice-presidente da fundação, Jorge Pozzobon, o diretor de Assistência, Ariovaldo José dos Santos, e o diretor do Patrimônio Indígena, Odenir Oliveira.
Sem reagir, o presidente da Funai foi levado do gabinete até o elevador. No caminho, os índios encontraram os diretores e os fizeram acompanhar Santilli.
Eles tentavam negociar com os índios o fim do protesto em troca de uma audiência, finalmente marcada para hoje, quando suas reivindicações serão discutidas.
"Eu não negocio na bagunça", disse Santilli, exigindo discutir as reclamações só na audiência. O diretor Odenir Oliveira, que fala a língua dos xavantes, convenceu os índios a comparecer à audiência marcada e libertar os reféns.
Ele afirmou que o presidente da Funai e os diretores não poderiam ser culpados pela falta de recursos.
Santilli disse aos índios que a Funai está em dificuldades porque o governo federal ainda não repassou R$ 8,7 milhões necessários ao pagamento de dívidas atrasadas desde o ano passado.
"O problema todo é dinheiro. Mas, se vocês não quiserem trabalhar comigo, peçam a minha demissão ao ministro", afirmou.
Os índios saíram da Funai e seguiram o conselho. Tentaram uma audiência com o ministro Nelson Jobim (Justiça), mas só conseguiram pedir a demissão do presidente da Funai a José Gregori, chefe de gabinete do ministro.

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