São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Serra nega congelamento do dólar

LUIZ ANTONIO CINTRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O discurso da equipe econômica sobre a política cambial que será seguida em 96 está dividido.
Afirmando "desconhecer" a tese de "congelamento" do câmbio ao longo do ano, defendida pelo diretor do Banco Central Gustavo Franco, o ministro José Serra (Planejamento) afirmou ontem que as desvalorizações do real frente ao dólar vão continuar ocorrendo.
"Como tem alguma inflação interna e ela é maior do que a inflação do dólar, o real vai aos poucos perdendo valor. Por isso, elas (as desvalorizações do real frente ao dólar) vão continuar acontecendo", disse Serra.
A afirmação do ministro foi feita durante a gravação do "Programa Livre", que vai ao ar de segunda à sexta-feira pelo SBT.
O ministro respondia a uma pergunta justamente sobre a desvalorização do real frente ao dólar.
Na saída, Serra disse que não comentaria as declarações que fez durante a gravação do programa.
A proposta de "congelamento" do câmbio foi defendida pelo diretor da Área Externa do BC, Gustavo Franco, que afirmou à Folha que "não tem o que fazer com o câmbio".
Segundo o raciocínio de Gustavo Franco, os aumentos de custos que vão ocorrer em 96 serão compensados pelos ganhos de produtividade que as indústrias terão durante o período. Além disso, deve-se considerar a inflação externa. Por isso, a relação entre o real e o dólar poderia ficar no mesmo nível de hoje.
Antes da gravação do programa, durante almoço com empresários do setor de construção, o ministro disse que a "evolução da balança comercial" brasileira é a grande "restrição ao crescimento". Isso porque o crescimento da economia acaba fazendo com que as importações também cresçam, o que aumenta a possibilidade de déficit comercial (importações maiores do que exportações).
"A balança comercial é, em última análise, o que condiciona o crescimento da economia."
Assim, o governo vai priorizar, segundo Serra, o crescimento de setores que não precisem importar muita matéria-prima para crescer.
O chefe de Operações das Reservas Internacionais do Banco Central, Joubert Furtado, disse ontem que "tecnicamente" é possível se chegar a um cálculo indicando que não é mais preciso desvalorizar o real frente ao dólar.
Ele afirmou, entretanto, que ninguém no governo está "advogando" o congelamento da cotação do real frente ao dólar.
Furtado disse que conversou com Gustavo Franco e que ele negou ter mencionado os verbos congelar ou engessar ao se referir à política cambial. "O diretor fez um exercício matemático e teórico para explicar a mecânica do processo cambial."
Por meio de sua assessoria de imprensa, o ministro Pedro Malan (Fazenda) se limitou a dizer que a política do governo para o câmbio é a banda cambial -que define limites máximo e mínimo para a cotação do real frente ao dólar.

Colaborou a Sucursal de Brasília

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