São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Mercado une Xuxa aos Trapalhões

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

O filme infantil do dia, "A Princesa Xuxa e os Trapalhões" (Globo, 15h30), propõe mais enigmas do que parece à primeira vista.
O primeiro, mercadológico, diz respeito ao encontro entre Xuxa e Os Trapalhões. Na época, 1989, o filme brasileiro rolava barranco abaixo. Assim, a questão era menos somar talentos do que mercados. O que se pode ver lembrando o enredo: princesa enfrenta tirano com ajuda de quatro heróis.
A preguiça da história é funcional: oferece o mínimo, um repertório batidíssimo, para garantir o público da primeira infância cinematográfica (até 5, 6 anos).
Mas ela também é, em parte, cultural. O que orienta a realização do filme é a bilheteria. Trata-se de uma distorção característica da indústria de cinema no Brasil: dissocia os termos cultura e indústria, em favor de um ou de outro, e nunca mais os faz reencontrar.
O problema consciente desse tipo de filme sempre foi um só: ele exige muito dinheiro para ser feito e força um tipo de timidez na elaboração. O problema inconsciente é de outra ordem: trata-se a infância como um estágio da vida que não deve ser perturbado por nenhum tipo de experiência exterior à família e à casa (ou à TV).
Daí os filmes de Os Trapalhões serem em geral anódinos, ao contrário dos de Mazzaropi, por exemplo, que, mesmo sendo tratados como produtos industriais, transbordavam de sinceridade.
Há pouco, dois filmes brasileiros procuraram pelo menos romper essa clausura da experiência dada, por caminhos e com resultados diversos: "O Menino Maluquinho" e "SuperColosso". O primeiro, sobretudo, está mais perto do filme infantil que merece ser visto como novo paradigma do gênero: "Babe, o Porquinho Atrapalhado".

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