São Paulo, terça-feira, 13 de fevereiro de 1996
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Rock dos anos 80 ressuscita por um dia

Smack, Mercenárias e Voluntários da Pátria tocam hoje

MARIO CESAR CARVALHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Houve um tempo em que o rock era mais do que um bibelô da MTV. Quer saber como era? Mercenárias, Smack e Voluntários da Pátria, três das bandas paulistas mais cultuadas na década de 80, tocam só hoje no Aeroanta.
Nenhuma delas existe mais. Mercenárias durou de 1982 a 1988; Smack, de 1983 a 1991; e Voluntários, de 1983 a 1986. Mas todos seus integrantes continuam fazendo música e CDs das Mercenárias e do Smack foram relançados pelo selo Baratos Afins.
A idéia de reunir as bandas foi de Sandra Coutinho, 37, baixista e vocalista das Mercenárias e do Smack. Ela vive há cinco anos na Alemanha, onde faz shows acompanhada só por equipamentos eletrônicos. De férias no Brasil, ficou chocada com os rumos do rock.
"O rock está estagnado tanto aqui quanto lá fora. As bandas dos 80 têm coisas que continuam atuais e originais", diz ela, que não vê muita graça em Raimundos nem em Chico Science.
Punk
O surto criativo foi consequência direta do punk, movimento que eclodiu em meados da década de 70. A molecada descobriu, primeiro na Inglaterrra e nos EUA, que não precisava de nenhuma grande corporação para fazer rock. Com o lema "do it yourself" (faça você mesmo), pipocavam bandas em todo o mundo.
O público também era ávido por novidades. "A gente lotava shows sem tocar no rádio. Hoje o público espera tocar na MTV para gostar", conta Clemente, 33, criador do grupo punk Inocentes e que hoje tocará guitarra com as Mercenárias (Ana, Rosália e Lou, três das Mercenárias originais, desistiram da carreira musical).
Mídia
Nasi Valadão, 34, vocalista do Ira! e do Voluntários, acha que a dificuldade foi a mãe da invenção nos anos 80. À época, não havia em São Paulo rádio nem revista só de rock; disco era em vinil e para encontrar aquele LP do Buzzcocks ou do Clash levava até meses.
"Os anos 80 foram o último segundo pré-globalização", arrisca Miguel Barella, 38, guitarrista do Voluntários. "Não havia MTV nem Internet. Movimentos como o punk duravam dois, três anos. Hoje não duram uma semana".
Não duram porque não há idéias por trás deles, só pose, segundo Nasi: "O rock tinha ideologia até os anos 80. Havia a guerra fria, acreditava-se em socialismo, em comunismo. Isso estimulava poetas e músicos".
"Havia mais verdade nas bandas da época", acredita Pamps, 42, guitarrista e cantor do Smack. "Hoje, ninguém dá bola para letra, só para clip".
Se eram tão boas, por que essas bandas acabaram sem deixar herança? "O mercado é muito pequeno, não tem tradição de rock e as modas passam muito rápido aqui", diz Giuseppe Frippi, 37, guitarrista do Voluntários.
Edgard Scandurra, 34, guitarrista do Ira!, do Smack e baterista das Mercenárias hoje à noite, acha que tudo se perdeu quando as gravadoras descobriram que rock dava dinheiro, na segunda metade dos anos 80.
"Aí começaram a surgir grupos que não tinham interesse musical. Era picaretagem". Como se sabe, toda geração acha que o rock de sua época era o melhor do mundo. Portanto, se você não tem 30 e alguma coisa, desconfie de tudo que foi dito aqui.

Show: Mercenárias (Sandra Coutinho, Edgard Scandurra, Clemente e Mingau), Voluntários da Pátria (Nasi Valadão, Giuseppe Frippi, Miguel Barella, R. Gaspa e Kuki) e Smack (Pamps, Sandra, Edgard e Charles Gavin)
Onde: Aeroanta (rua Miguel Isasa, 34, Pinheiros, zona oeste de São Paulo)
Quando: hoje às 22h
Quanto: R$ 15,00

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