São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 1996
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'Não aconteceu praticamente nada', diz Maia

DA SUCURSAL DO RIO

O prefeito do Rio, César Maia (PFL), que chegou ontem de uma viagem aos Estados Unidos, sobrevoou as áreas atingidas pelas chuvas e disse que, "perto do volume que desabou, os estragos não foram grandes".
César Maia acrescentou que "o que aconteceu foi praticamente nada em comparação com chuvas anteriores". À tarde, o prefeito afirmou que suas observações se referiam à situação material da cidade, e não às vítimas das chuvas.
Para Maia, mesmo que todas as obras nas encostas estivessem prontas, não teriam evitado os acidentes nas favelas do Vidigal e da Rocinha (zona sul), onde morreram pelo menos dez pessoas. As declarações são uma resposta aos que atribuem os desabamentos, responsáveis por 37 das 44 mortes na cidade, aos baixos investimentos em obras de contenção.
No biênio 95/96, a prefeitura carioca destinou para obras do gênero a mesma quantia prevista para o tratamento urbanístico do programa Rio Cidade.
O orçamento da Geo-Rio (Fundação Instituto de Geotécnica do Município), órgão responsável pelas obras nas encostas é de R$ 73 milhões. O Rio Cidade tem, para o mesmo período, R$ 220 milhões.
Segundo César Maia, um terço desse valor é destinado a obras de embelezamento, um terço para saneamento básico e um terço para obras de drenagem.
O prefeito se queixou da omissão do governo estadual e também do federal em relação ao problema do Rio, acrescentando depois que a prefeitura tinha condições de cuidar sozinha dos problemas. Ele afirmou que "até o Carnaval" a normalidade urbana estará restabelecida na cidade.
Conforme dados da Geo-Rio, desde 1966, morreram 359 pessoas em acidentes nas encostas cariocas. O recorde foi em 1967, com 126 pessoas, sendo 119 apenas no mês de fevereiro.
Os dados mostram ainda que existem atualmente na cidade 12 áreas de alto risco, com 737 casas e cerca de 3.600 moradores. Há ainda 400 áreas de risco menor, cerca de 120 delas habitadas. Segundo as estimativas, entre 1,5 milhão e 2 milhões de pessoas moram em favelas.
"Falta vontade política para se enfrentar o problema das encostas", declara o engenheiro Willy Lacerda, da Coppe-UFRJ (Coordenação dos Programas de Pós-Graduação em Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Lacerda diz que remoção não dá voto, e os políticos preferem "dar uma geladeira a quem a perdeu na enchente" porque isso rende dividendos eleitorais.
O presidente da Geo-Rio, Moysés Vibranovski, rebate as críticas e diz que a prefeitura não pode "fazer só obra de encosta". Para Vibranovski, "às obras da Geo-Rio estão dando resultado".
Ele defende o Rio Cidade, afirmando que o projeto também faz obras de drenagem e colocação de rede elétrica subterrânea.
O presidente da Geo-Rio informou que o orçamento da empresa para este ano (R$ 40 milhões) é o maior desde 1966, quando o órgão foi criado. Segundo ele, a média anual de investimentos é de cerca de R$ 20 milhões.
A Geo-Rio informou ainda que no ano passado investiu R$ 33 milhões em 160 obras, e que os R$ 40 milhões previstos para este ano serão aplicados em outras 160.

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