São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 1996
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Preservativo é mal menor, diz padre

VINICIUS TORRES FREIRE
DE PARIS

A Igreja Católica na França jamais proibiu o uso do preservativo, mas considera que esta atitude é moralmente ilegítima. A afirmação é do padre Henry Bussery, 36, secretário-geral da Comissão Social dos Bispos da França.
"Para a igreja, a prevenção da Aids é decorrência da observância da monogamia e, fora do casamento, da castidade" disse.
A comissão publicou na segunda-feira um relatório que dizia ser necessário o uso do preservativo para evitar a Aids.
Anteontem, o bispo de Poitiers, d. Albert Rouet, presidente da comissão e autor do texto mais discutido do relatório, disse à Rádio Vaticano que o episcopado francês não apoiava o uso do preservativo e que os jornais haviam exagerado o teor da documento.
O padre Bussery disse à Folha que a comissão, da qual é uma espécie de porta-voz, não mudou de posição e que não houve pressão do Vaticano nesse sentido.
"Se por causa de um comportamento sexual condenável alguém pode vir a transmitir a Aids, e portanto a morte, é melhor o usar o preservativo. É o mal menor".
Em 1988, por exemplo, d. Albert cardeal Décourtray, arcebispo de Lyon morto em 1994, disse que, em relação à morte, o preservativo era um "mal menor".
Segundo Bussery, d. Jean-Marie cardeal Lustiger, arcebispo de Paris, adota a mesma posição. O padre não considera que a frase "o preservativo é mau, porém necessário" resuma a opinião da igreja.
"Em primeiro lugar, a questão é muito complexa para ser resumida. E a frase envolve questões de níveis diferentes".
Segundo Bussery, visto sob o ângulo da prevenção da Aids, o preservativo teria a qualidade de evitar a morte, e portanto não é mau. Ter de utilizá-lo no entanto, seria o reflexo de um comportamento sexual "moralmente ilegítimo e que não pode ser bendito".
Sobre o que diria a um católico solteiro que pedisse um conselho sobre o uso do preservativo, Bussery falou de amor e citou Jacques Lacan (psicanalista, 1901-81).
"Diria que o amor é algo muito sério para ser reduzido a necessidades naturais como comer e dormir, a relações sem importância. Que o sexo não prepara para o amor. Que o amor não é uma questão de sexo, mas de relação."
Para um católico solteiro contaminado por causa uso de drogas injetáveis e que quisesse casar, Bussery seria mais objetivo. "Se você acha que pode se contaminar e se matar, ou matar alguém, é melhor usar o preservativo".

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