São Paulo, quinta-feira, 15 de fevereiro de 1996
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O TRECHO POLÊMICO

O trecho abaixo, extraído do documento, é de autoria do bispo Albert Rouet:
Muitos médicos competentes afirmam que o preservativo de qualidade confiável é atualmente o único meio de prevenção. Por este motivo (ou "devido a esta qualidade" 1), ele é necessário.
Várias campanhas de publicidade informaram a população a este respeito. Depois de um momento em que a reação foi muito lenta, parece que os jovens o estão utilizando mais. As autoridades de saúde pública apóiam o seu uso. A Igreja, que pode eventualmente 2 se opôr, se vê acusada de colaborar com a morte.
O problema é mal colocado, pois confundem-se vários domínios que não têm a mesma qualificação moral. O argumento baseado na prevenção da infecção acoberta reivindicações que ultrapassam de longe a questão da Aids.
É normal que a igreja, que matiza mais os problemas do que se diz, leve em conta esses excessos. Uma prevenção individual não resolve as dificuldades sociais.
Pensar que uma generalização do preservativo vai acabar com todos os riscos é se limitar às consequências, sem examinar as causas e condições de expansão da Aids. A resposta (a prevenção individual) é insuficiente neste caso.
É preciso confessar, mesmo que seja repugnante reconhecê-lo, que se expande a idéia de uma banalização do ato sexual, como se a multiplicação e a diversidade das relações sexuais fossem indispensáveis, logo normais, para descobrir o amor.
Passa-se insensivelmente da prevenção à indução de um comportamento de iniciação tido como habitual e mesmo normativo. A resposta é perversa neste caso.
Ela fomenta uma confusão entre um meio de prevenção, o único conhecido, e uma abordagem educativa. Ela dá a entender que a proteção material do sexo é suficiente para descobrir a qualidade do amor. Aconselhando o preservativo aos jovens adolescentes, longe de ajudá-los a compreender sua identidade sexual, nós os entregamos à autoridade de suas pulsões.
O uso do preservativo é pois compreensível nos casos em que há a necessidade de evitar os riscos de uma atividade sexual já incorporada à personalidade, mas é preciso levar em conta que este meio não educa uma sexualidade adulta."

Trecho extraído do documento "Aids - A Sociedade em Questão - Pais, os que Cuidam dos Doentes, Doentes, Instituições e Personalidades se Exprimem (Declaração da Comissão Social)". Da Comissão Social do Episcopado, presidida por Albert Rouet. Editora Bayard/Centurion. 235 págs. Preço: US$ 16,40.
(1) - Em francês: "à ce titre" - não significa causa. Dá a idéia de: "devido a esta qualidade".
(2) - Em francês: "est suscetible de": literalmente, é suscetível, o que não faz sentido no caso.

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