São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Favelado foge de uma enchente para outra

Alguns já mudaram até 3 vezes de casa

FERNANDA DA ESCÓSSIA
DA SUCURSAL DO RIO

Recolhida à creche municipal junto com os desabrigados pela chuva vila Nova Cruzada (zona oeste), a feirante Eucira Azevedo Coutinho, 42, contabilizava as perdas da terceira enchente em sua vida.
Na primeira, em 66, viu a família perder a casa em Copacabana (zona sul). Na segunda, em 88, ela mesma teve que abandonar o barraco destruído pela água no Maracanã (zona norte).
Na noite da última terça-feira, sua casa, seus móveis, roupas, documentos, foram levados pela enxurrada que destruiu quase tudo na favela. Sua prima Mirtes Freire Falcão, que morava em sua casa, morreu afogada. O corpo foi retirado anteontem da água.
"Queria saber o que eu fiz para merecer tanto sofrimento. O pior é que não sei nem o que fazer. Não tenho como trabalhar, não tenho dinheiro nem documentos", diz Eucira.
Ela conta que, na hora da enxurrada, ouviu um barulho muito forte. Abriu a porta e assustou-se com o nível da água. A casa foi levada de uma vez. Também desabrigada, a faxineira Maria de Fátima da Silva, 36, perdeu a casa, roupas e móveis. Conseguiu salvar sua filha adotiva, Cláudia, 10. A garota foi arrastada pela água, mas agarrou-se a um pedaço de madeira onde os moradores costumam amarrar animais.
Fátima mudou-se para a Vila Cruzada há quatro anos, depois que o marido e os dois filhos foram mortos por um grupo de extermínio na favela Via Park, na Barra da Tijuca (zona sul).

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