São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Invasores de terreno denunciam assassinato de sem-teto no Rio

CLÁUDIA MATTOS
DA SUCURSAL DO RIO

Invasores de um terreno público em Sepetiba (zona oeste do Rio) estiveram ontem na sede da Polícia Civil do Rio para denunciar que um grupo esteve no local de seu acampamento na noite de terça-feira, matou uma pessoa e espancou outras 20.
No acampamento, que foi montado em um terreno da Cehab (Companhia Estadual de Habitação) na estrada de Sepetiba, moram 240 famílias, que invadiram o terreno em dezembro de 95. Os invasores fazem parte de um movimento de trabalhadores sem-teto, assessorado pela CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Narciso, que está com um corte no supercílio e com o olho roxo, estava revoltado com a brutalidade empregada pelos membros do grupo, que acabou causando a morte de Jorge Luiz da Silva, 30.
"Quando eles chegaram ao barraco do Jorge Luiz, ele estava dormindo. Ele foi puxado por um vão grande entre a porta e o chão e levou logo um tiro de escopeta. Depois eles deram outros tiros."
Segundo Jacira Costa Silva, 27, que alega ter levado coronhadas na cabeça, um dos homens teria afirmado: "Só fiz isso de aviso. Vocês têm 24h para sair do terreno".
Segundo os moradores do acampamento, Silva já estava morto quando um patrulha do 27º Batalhão da PM levou seu corpo.
"Nós queremos o corpo dele de volta e segurança para o nosso acampamento", reivindicou Marilene Monteiro Teixeira, 36.
Marilene, que é enfermeira o hospital estadual Souza Aguiar, disse que, por causa da violência do grupo de extermínio, uma moradora que ainda não completara o nono mês de gestação teve uma filha prematura.
"Fizemos o parto ali mesmo e depois a levamos para o hospital para cortar o cordão umbilical."
Narciso Nogueira acusa a Cehab e os comerciantes de Sepetida pela ação.
"A Cehab quer a gente fora de lá e fica espalhando entre os comerciantes de Sepetiba que a gente está transformando o local numa favela, que temos uma boca de fumo lá dentro, o que é mentira", afirmou.
A Cehab negou as duas acusações e disse que nem mesmo tinha tomado conhecimento do ataque.
Segundo o órgão, a única medida que está sendo tomada contra os invasores é uma ação judicial para reintegração de posse.

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