São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Decisão do presidente ajuda comunistas

JAIME SPITZCOVSKY
DE PEQUIM

A candidatura de Boris Ieltsin aumenta as chances de vitória dos comunistas. O ex-premiê reformista Iegor Gaidar resume: "Se Ieltsin não concorrer, as pessoas vão poder votar contra os comunistas. Agora, com sua candidatura, as pessoas vão votar contra Ieltsin, e Ziuganov assim ganha".
Ieltsin vai dividir os votos do chamado campo democrático pois dificilmente conseguirá a desistência de Grigori Iavlinski, outro candidato reformista. Enquanto um lado se divide, o outro, formado por neocomunistas e nacionalistas, tende a se unir.
Ziuganov já conseguiu apoio de grupos comunistas radicais, em sua maioria minúsculos. Mas um deles, o Rússia Trabalhadora de Viktor Anpilov, amealhou cerca de 4% nas eleições parlamentares de dezembro passado.
Seduzido pela idéia de se manter no poder, Ieltsin ignora baixos índices de popularidade trazidos pelos efeitos negativos das reformas econômicas, como empobrecimento e desemprego, e pela guerra da Tchetchênia.
O presidente aposta na estratégia de se apresentar como o único político capaz de impedir o avanço dos neocomunistas.
Mas somente Iavlinski teria condições de vencer Ziuganov no segundo turno (com 34% contra 28%), de acordo com pesquisa do Instituto Vtsiom, de Moscou.
Caso passe para o segundo turno, Ieltsin conseguiria 19% dos votos, contra 33% de Ziuganov. O neocomunista ainda venceria, por 35% a 14%, o neofascista Vladimir Jirinovski.
Ieltsin enfrenta insinuações de que não teria condições de saúde para mais cinco anos no poder.
Vencedor em 1991 das primeiras eleições presidenciais livres da história russa, Ieltsin parece sofrer de um mal que costumava atingir os líderes soviéticos.
A imensidão e a imponência do Kremlin os distanciavam do cotidiano do país para colocá-los num isolamento monárquico.
Mas, com a democratização, o impopular Ieltsin pode sofrer a punição das urnas. Mas ele já declarou confiar em seu faro político e aposta na chance de vencer as eleições deste ano ao apresentar-se como protetor das reformas iniciadas com o colapso da União Soviética.
A sua insistência em manter-se no poder e a atual determinação de Iavlinski em concorrer dividem o campo democrático. Caso não cheguem a um acordo, a Rússia pode se preparar para ver os neocomunistas reinando no Kremlin.

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