São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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De frente para o futuro

FERNANDO BEZERRA

As pesquisas realizadas pelo Datafolha e Vox Populi, divulgadas pela imprensa no mês de janeiro, acerca do comportamento social de nossa população apresentam resultados alentadores para os homens públicos deste país, razão pela qual sinto-me no dever de comentá-las brevemente.
Segundo as sondagens, os brasileiros orgulham-se do país numa proporção esmagadora (84%) e estão otimistas quanto ao futuro (85%). Os envergonhados com a condição de brasileiro são minoria ridícula (5%).
Situação semelhante sempre tem aparecido, por exemplo, nas competições esportivas internacionais. A impressão de que essa coesão nacional tivesse esmaecido talvez se deva à radicalização política. Países como o Brasil, que realizaram recentemente experiência de abertura política, cujo maior exemplo é a Espanha, evitaram reivindicações extremadas. Aqui, mesmo durante as últimas campanhas eleitorais, o que sobressaiu era uma espécie de tudo ou nada, como se fosse desejável criar um fosso intransponível entre os brasileiros.
Felizmente esse fantasma parece haver sido enterrado, queira Deus que definitivamente. Temos divergências quanto aos caminhos que nos levam aos objetivos colimados. Mas estes são partilhados pela minoria.
Nessa mesma linha, 63% (segundo a Vox Populi) acham que nós brasileiros merecemos muita confiança (29%, pouca e apenas 5%, nenhuma); 57% acham que podemos nos transformar numa grande potência e 79% não gostariam de viver num outro país. O franco repúdio ao terceiro-mundismo não podia ser mais claro. Os resultados das pesquisas não deixam dúvida quanto ao entendimento de que nosso país está vocacionado para integrar o Primeiro Mundo.
A lição que tiraria do que precede seria a de que aquela parcela dos políticos ou das lideranças sindicais que fomentam ódios e rivalidades insanáveis não apenas contrariam a índole do povo brasileiro, como diríamos antigamente, mas se chocam com as suas mais profundas aspirações.
Acredito que a maioria aposta nas vantagens da convivência civilizada. Afinal estamos todos no mesmo barco e temos confiança de que as dificuldades são transitórias e estamos perfeitamente capacitados a superá-las.
Outra circunstância altamente favorável, apresentada pela pesquisa da Vox Populi, reside na valoração do comum das pessoas. O trabalho, a família e a religião são valores presentes, de forma insofismável, em nosso cotidiano.
Pode uma pessoa ser feliz sem religião? 63% acham que não; 55% responderam que a família está aumentando (30%) ou mantendo (25%) a sua importância; 58% acham que o brasileiro é sério e trabalhador, mudando a visão antiga que o tinha como malandro e preguiçoso. O perfil que se recolhe dessa investigação é conservador, no melhor sentido da palavra.
Nossos compatriotas querem preservar a família, reconhecendo que esta tem saído incólume dos embates que pareciam ameaçar a sua sobrevivência. 52% consideram que o divórcio não é solução para o casal que enfrenta dificuldades. Essa adesão sem reserva aos valores tradicionais nada tem de retrógrado.
O conservadorismo não precisa ser reacionário, como aliás diversos estudiosos têm inferido da história pátria. Essa característica do conservadorismo brasileiro, reconhecida precedentemente e expressa de forma clara na pesquisa, torna-se patente na opinião de que a mulher deve trabalhar fora apenas quando o salário do marido for insuficiente -opinião de 54% das pessoas ouvidas, que acham também, na proporção de 56%, que a mulher trabalhando fora pode perfeitamente criar de modo adequado os seus filhos.
Quer dizer: a família é instituição vigorosa e esteio da sociedade, desempenhando a contento o seu papel ao abandonar o patriarcalismo e adaptar-se ao exercício, pela mulher, de outras funções sociais.
No que se refere aos baixos índices de confiança (11% pelo Vox Populi e 25% pelo Datafolha) com que a representação parlamentar aparece perante a opinião pública, cabe-nos interpretar corretamente o que pensam os eleitores, agindo em consonância com o que eles desejam. Entender o que se passa na mente e nos corações dos brasileiros é a principal condição para representá-los.
O esforço bem-sucedido em prol das reformas que desenvolvemos no ano passado, e que surpreendeu mesmo os mais otimistas, tem de ser retomado, pois aponta na direção do que deseja a sociedade.
Em síntese, as pesquisas do Datafolha e da Vox Populi mostram que o brasileiro coloca-se de frente para o futuro. Na condição de membros do Congresso Nacional, nosso maior empenho deve consistir em alcançar crescente sintonia entre a nossa atuação e as aspirações da nação. Este é, precisamente, o mérito de pesquisas abrangentes como a que ora comentamos.

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