São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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As prévias do PT

VITOR BUAIZ

Como todos sabem, teremos neste ano de 1996 a realização de eleições municipais. Milhares de candidatos estarão disputando mandatos para tornarem-se vereadores ou prefeitos.
Isso é positivo para o processo de aprofundamento da democracia no Brasil. Afinal, a democracia é construída com a participação dos cidadãos no processo eleitoral e nas decisões governamentais e com a competição entre atores políticos representativos das demandas sociais.
É nesse contexto da discussão sobre o aprofundamento da democracia no Brasil que gostaria, aqui, de colocar para o debate público a questão da realização de prévias, no PT, para indicação dos seus candidatos às prefeituras.
Penso que, da forma como estão sendo encaminhadas, as prévias representam, na verdade, um equívoco político. Isso porque elas estimulam a formação e ampliação das máquinas partidárias, fazendo com que o processo de escolha dos candidatos se torne mais um problema de controle interno do partido do que um problema de conquista do eleitorado externo.
Vale dizer: as prévias estimulam a burocratização e oligarquização do partido, em detrimento da sua abertura para a sociedade e, portanto, da sua democratização. O que nos faz lembrar o sociólogo alemão Max Weber, segundo o qual o processo de oligarquização é, por definição, incompatível com o desejo pela democratização.
Por essa razão amadureci a idéia, que submeto à discussão pública, de que o partido deve optar por escolher como seu candidato aquele postulante que tiver maior densidade eleitoral na sociedade. Se as pesquisas de opinião indicarem que determinado candidato "X" tem mais densidade e aceitação na comunidade que o candidato "Y", não há porque caminhar para a escolha de "Y". Isso é suicídio político.
Suicídio simplesmente porque o partido estaria olhando só para dentro de si mesmo e não para a sociedade -negando assim a possibilidade de ampliação da sua representatividade social.
Ora, o PT precisa crescer muito mais do que já cresceu nos últimos anos, ampliando sua base social e sua representatividade. Só assim ele vai caminhar realmente na direção de se tornar um partido de massas, superando o modelo burocrático do partido de quadros.
Só assim, acima de tudo, ele vai poder contribuir de forma mais efetiva para a construção da democracia no Brasil, afirmando-se como alternativa real de poder e como principal correia de transmissão das demandas progressistas da sociedade brasileira.
Se é assim, se o PT deseja mesmo crescer, não será com a realização de prévias. A sociedade jamais vai entender por que o partido precisa estimular disputas internas entre postulantes se já tem nas mãos um candidato com respaldo popular.
Quer dizer, se é para estimular o crescimento da base social do partido, o caminho natural deve ser o de respaldar a candidatura daqueles com melhor colocação nas pesquisas de opinião.
Infelizmente, entretanto, não é isso o que vem ocorrendo. E tudo indica que o equívoco vai permanecer ainda este ano. Basta ver os exemplos de Santos, São Paulo, Goiânia, Belo Horizonte e Diadema, onde a probabilidade é de que o PT acabe por estimular disputas internas em torno de candidaturas no lugar de consagrar aqueles postulantes de maior densidade político-eleitoral.
Portador das condições históricas e políticas para se credenciar como novidade histórica no início dos anos 80, o PT nasceu das lutas sociais contra o governo autoritário e pela redemocratização do Brasil. Nasceu e cresceu muito, tornando-se uma alternativa de poder em nível municipal e em nível estadual e ampliando a sua participação no Congresso Nacional.
O fato de o partido não buscar candidaturas com maior densidade político-eleitoral acaba fazendo com que ele perca a sintonia com as demandas da sociedade, prejudicando o seu crescimento qualitativo. Ora, um partido que perde o contato com as ruas e com a opinião pública é um partido fadado à involução e ao isolamento político. É, portanto, um partido que pode tender ao envelhecimento precoce e à entropia.
Por essa razão, por não desejar o envelhecimento do PT e o esfacelamento das oposições neste país, é que defendo a idéia da indicação dos candidatos de melhor densidade político-eleitoral nas próximas eleições municipais. Com maior densidade esses candidatos poderão fazer uma grande diferença, ajudando a recolocar o PT nos trilhos e trilhas do século 21. Fica o desafio.

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