São Paulo, sexta-feira, 16 de fevereiro de 1996
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Pra tudo acabar na quarta-feira

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - Bem, se a folhinha que ganhei do fruteiro que me abastece estiver correta, amanhã já é Carnaval. Somos afobados aqui no Rio e afobadíssimos na Bahia, onde o Carnaval começa no Natal e vai até o Natal seguinte. Mais modestos, na sexta-feira que antecede o inarredável "tríduo momesco" de antigamente, os jornais e revistas de hoje garantem que já estamos "sob o império da folia". Daqui para a frente, como diria o poeta, é folgar.
Posso e devo ser folgado, mas em outros temas e circunstâncias. Desde criança que embirro com a palavra "folgazã" -daí que meu folgar é ascético, é um não-folgar. Mesmo assim, aceito o Carnaval como aceito os temporais que caíram em cima da Lagoa, dois dias e duas noites, criando uma confusão que nada teve de folgazã.
A vida nacional entrará em recesso -e acredito que ela devia imitar a Bahia, ficar em recesso de Natal a Natal. Evitaria a desilusão dos sindicalistas que negociaram com o governo, deram os anéis para ficar com um mínimo de dedos e na hora das horas os congressistas não deram nem os dedos nem quiseram dar os anéis. Ainda vão lutar pela aposentadoria especial com oito anos de mandato.
O recesso fará bem ao nosso presidente, que vai mais uma vez ao exterior, na missão de sacrifício a que se propõe: a de melhorar a nossa imagem lá fora. Eu ando necessitando de um antenista que vá lá em cima, ver o que houve com a parabólica, os temporais da semana a deslocaram e a imagem que recebo está uma droga.
Não me passaria pela cabeça convocar o presidente, um especialista em melhorar imagem, para vir quebrar meu galho. Acredito que ele não está muito interessado em melhorar nossa imagem aqui dentro. Com as reformas que vem patrocinando, acabará fazendo do Brasil um país de Quinto Mundo fantasiado de Primeiro Mundo. Nem o Clóvis Bornay, em toda a sua glória, abusou de tanto paetê e purpurina. Pra tudo acabar na quarta-feira.

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