São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Governo retoma montagem de Angra 2

SÔNIA MOSSRI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O governo decidiu reiniciar em 96 a montagem da usina nuclear de Angra 2, com investimentos de R$ 461,7 milhões, mas estuda a melhor maneira de resolver um problema ligado ao grupo de empreiteiras que venceu a licitação.
Entre as empresas está a Andrade Gutierrez, que foi acusada, no fim de 95, de receber um pagamento superfaturado da Eletronorte no valor de R$ 235 milhões. Inquérito administrativo da Eletrobrás investiga o caso.
Em outubro de 95, a estatal Furnas Centrais Elétricas, responsável por Angra 2, realizou licitação e definiu a proposta apresentada pelo grupo Andrade Gutierrez, Tenenge, Ebe, Sade e Techint como a melhor para a montagem mecânica, muclear e eletrônica da usina. O valor total do contrato é estimado em R$ 190 milhões.
A Andrade Gutierrez considera que o governo pode retirar propositadamente a empreiteira da licitação por causa das dificuldades com a Eletronorte.
O gerente responsável pela área de marketing da empreiteira, José Eduardo Gonçalves, disse à Folha que existe "a ameaça" de o governo excluir a empresa.
O ministro das Minas e Energia, Raimundo Brito, orientou o presidente da Eletrobrás, Antônio Imbassahy, a não autorizar a assinatura do contrato com Angra 2 enquanto a empreiteira não solucionar o problema com a Eletronorte.
O assessor de Comunicação Social do ministério, Antônio Nasi Brum, afirmou que Brito não quer que o contrato seja assinado enquanto a empresa não devolver aos cofres da União os recursos pagos a mais pela Eletronorte.
Nasi Brum lembrou que o prazo legal para assinatura de contrato após realização de licitação é de seis meses. Isso quer dizer que o governo tem até abril para a assinatura com as empreiteiras para a montagem de Angra 2.
Se o contrato não for assinado até abril, o governo terá de realizar nova licitação, o que é motivo de apreensão na Andrade Gutierrez.
Sem desconto
Segundo Nasi Brum, todas as dívidas que a Eletronorte tinha com empreiteira foram pagas com desconto de 21%, menos a da Andrade Gutierrez. O valor pago a mais à empresa teria sido de R$ 49,3 milhões.
A empreiteira alega que não houve superfaturamento. Gonçalves observou que a Eletronorte pagou os R$ 235 milhões com títulos da dívida mobiliária do governo federal. Ele disse que os títulos teriam valor de mercado na faixa de R$ 100 milhões por causa dos descontos praticados pelo mercado.
Até agora, a Andrade Gutierrez e a Eletrobrás não chegaram a um acordo sobre o suposto superfaturamento.
O gerente responsável pela área de marketing da empreiteira afirmou que a empresa recebeu em títulos e pretende devolver na mesma moeda.
O Ministério das Minas e Energia, no entanto, insiste na devolução em dinheiro vivo.

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