São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Privatização da Vale renderia R$ 5,4 bi hoje

MÁRCIO DE MORAIS
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A CVRD (Companhia Vale do Rio Doce) renderia ao governo federal R$ 5,401 bilhões se fosse privatizada hoje.
A empresa teve um lucro líquido de R$ 329 milhões no ano passado, de acordo com balanço encaminhado à CVM (Comissão de Valores Imobiliários) no início da noite de anteontem.
Daquele total, quase R$ 168 milhões representam a parte do lucro do acionista majoritário -a União. "O Estado detém hoje 51% do número total de ações da Vale", disse o ministro Raimundo Brito (Minas e Energia).
Se vendidas hoje, o total de 48,5 milhões de ações emitidas pela empresa renderiam R$ 10,591 bilhões aos acionistas.
É o que os especialistas chamam de valor patrimonial da empresa, no qual está incluído, inclusive, a jazida de ouro de 150 toneladas recém-descoberta no Pará.
Mas a União só é dona de R$ 5,401 bilhões do patrimônio da empresa.
Portanto, este é o dinheiro que o governo federal receberia caso a empresa fosse privatizada hoje, pelo seu valor patrimonial atualizado.
Estes números revelam, segundo o consultor em geologia Elmer Prata Salomão, que a Vale "não é um bom negócio para o Estado".
Salomão foi diretor, durante seis anos -de 1990 até meados do ano passado-, do Departamento Nacional de Produção Mineral.
"Mas em compensação, como patrimônio político, a Vale tem um grande valor para os grupos que defendem a sua manutenção em poder do Estado".
Salomão alerta para o fato de que, sempre que algum político ou burocrata defender a exclusão da empresa do PND (Programa Nacional de Desestatização), estará em jogo um elevado grau de interesse político ou de corporativismo.
Pelo raciocínio do especialista, que se desvinculou do governo para se dedicar à consultoria geológica, "oos R$ 5,4 bilhões que a União tem na Vale renderiam muito mais caso estivessem aplicado no mercado financeiro".
E completa: "Na mais rasteira das hipóteses, a União obteria de R$ 500 milhões a R$ 600 milhões anuais caso aplicasse esse dinheiro no mercado financeiro".
Esse raciocínio, segundo Salomão, é que levou o governo a ter incluído a estatal no PND.
Suas argumentações são compartilhadas com assessores diretos do ministro Raimundo Brito.
"Mas é óbvio que a União não vai aplicar o dinheiro no mercado, e sim em programas sociais e de desenvolvimento, para gerar empregos e bem-estar social, o que é de fato a sua obrigação".
Ex-ministro de Minas e Energia, o tucano Paulino Cícero de Vasconcelos, sempre foi contra a privatização da estatal por considerá-la estrategicamente fundamental para o país.
Para ele, a Vale não pode ser considerada apenas um negócio, mas uma espécie de agência de desenvolvimento.
Cícero disse que durante o governo Itamar Franco se fez um acerto para que a Vale e a Petrobrás fossem excluídas do PND.
Hoje ele critica o seu colega de ministério, o atual presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Não se pode ir na onda do vai-de-valsa para incluir o Vale no programa", comentou.

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