São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Covas quebra tradição e nomeia Marrey

CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador Mário Covas nomeou ontem Luiz Antonio Marrey para o cargo de procurador-geral de Justiça de São Paulo.
A escolha quebra uma tradição iniciada no governo Franco Montoro (83-87), segundo a qual o governador indica sempre o candidato mais votado pela classe.
Marrey perdeu a eleição por 219 votos em relação ao primeiro colocado, o ex-procurador-geral de Justiça José Emmanuel Burle Filho, que obteve 859 votos.
Covas nunca assumiu o compromisso de manter a tradição iniciada por seu colega de partido.
Sempre disse que a Constituição do Estado lhe dá a prerrogativa de nomear qualquer um dos integrantes da lista tríplice definida por votação no Ministério Público.
A identificação de Marrey com integrantes do governo tucano pesou na decisão do governador.
A nomeação de Marrey foi defendida pelos três secretários de Estado que atuam na área jurídica: João Benedito de Azevedo Marques (Assuntos Penitenciários), Belisário dos Santos Júnior (Justiça) e José Afonso da Silva (Segurança Pública).
Marrey contou ainda com cabos eleitorais dentro do Palácio dos Bandeirantes. Entre eles, o secretário de governo, Antonio Angarita, e o assessor especial Marco Vinício Petrelluzzi.
Azevedo Marques é procurador aposentado e pertencia ao mesmo grupo de Marrey dentro do Ministério Público. Petrelluzzi é procurador e declarou publicamente sua preferência por Marrey.
O futuro procurador-geral também teve apoio fora do governo. Várias instituições ligadas à sociedade civil pediram ao governador que Marrey fosse o escolhido.
Em entrevista à Folha, Petrelluzzi afirmou que Covas conversou com diversas pessoas antes de tomar sua decisão. Entre elas, segundo ele, estariam também defensores de Burle.
O assessor de Covas nega que qualquer integrante do secretariado tenha ameaçado deixar o governo caso Marrey não fosse o escolhido, como insinuou Burle.
Mudança de rumo
A escolha de Marrey levará ao poder no Ministério Público o grupo que se fortaleceu na oposição principalmente a partir do governo Orestes Quércia (87-91).
Com a nomeação de Araldo Dal Pozzo, Quércia consolidou a influência do Poder Executivo sobre a cúpula do Ministério Público.
Quando deixou o cargo, Dal Pozzo apoiou a candidatura de Burle contra o então candidato da oposição, Luiz Carlos Galvão.
O procurador-geral de Justiça tem uma atuação estratégica na apuração de danos ao patrimônio público. Só ele, por exemplo, pode investigar e iniciar ações contra governadores do Estado acusados de corrupção.
Além disso, é o chefe máximo de uma instituição que ganhou poderes extremamente amplos com a Constituição de 88.
Entre as atribuições do Ministério Público, estão a defesa do meio ambiente, do consumidor, dos índios e do patrimônio histórico, artístico e cultural.
Ao lado dessas, há a atribuição tradicional de defesa da lei e da sociedade.
O mandato de procurador-geral é de dois anos, com direito a uma recondução. A data da posse de Marrey ainda não está definida.

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