São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IPC faz empréstimos a juros mais baixos

MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A extinção do IPC (Instituto de Previdência dos Congressistas) poderá pôr fim a uma das mais baratas fontes de crédito do mercado brasileiro, acessível apenas aos parlamentares e aos funcionários do Congresso associados ao instituto.
Entre os congressistas (513 deputados e 81 senadores), 329 compraram carro com financiamento do IPC e ainda não terminaram de pagar o empréstimo.
Mais 401 estão pendurados no crédito pessoal, que garante empréstimos de até R$ 20 mil -duas vezes e meia o valor do salário do parlamentar.
A contenção de consumo imposta pela equipe econômica, por meio de sucessivas circulares do Banco Central, não vale para os associados do IPC.
Enquanto as instituições financeiras estão proibidas de conceder empréstimos ou financiar a compra de veículos com prazo de pagamento superior a seis meses, os associados do IPC têm até três anos para pagar os carros novos, e dois anos para quitar empréstimos pessoais.
Juros baixos
Além do prazo longo, os parlamentares podem contar com a mais baixa taxa de juros do mercado: cerca de 2,5% ao mês.
O IPC cobra de seus associados somente a remuneração de depósitos em cadernetas de poupança mais 0,5% ao mês sobre o dinheiro emprestado.
A agência do Banco do Brasil instalada no prédio do Congresso, a poucos metros de distância do IPC, cobra algumas vezes mais caro pelo cheque especial.
A taxa deste mês está em 8,3%. O mercado está cobrando taxas de juro entre 6% e 9,5% nos empréstimos para pessoa física.
Como os empréstimos do IPC têm prazo longo para pagar, o privilégio concedido aos parlamentares fica ainda mais evidente.
Ao final de um ano, um financiamento de R$ 20 mil tomado no IPC paga de juros R$ 6.898, enquanto os juros médios no mercado chegam a R$ 28.800.
Dinheiro público
A maior parte do dinheiro emprestado pelo IPC a seus associados sai dos cofres públicos. A parcela de contribuição da União representa o dobro da parcela dos associados (cerca de R$ 1,5 milhão por mês).
É esta a verba que o instituto administra, junto com o aluguel de imóveis e o produto de seus investimentos.
Segundo o diretor-executivo do instituto, Afrísio Vieira Lima Filho, os empréstimos concedidos aos parlamentares constituem uma forma de "aplicação financeira" do IPC.
Como não pode cobrar dos parlamentares menos do que a remuneração das cadernetas de poupança, o instituto estipulou a taxa extra de 0,5% ao mês.
"É um investimento com total segurança porque os financiamentos são descontados direto no contracheque", defende o diretor.
A última edição do jornal do IPC avisa que foi suspensa em dezembro a liberação de novos empréstimos e financiamentos. Nada a ver com a proposta de extinguir o instituto, defendida pelo governo federal.
"A gente aqui não está nem pensando na extinção", afirmou Vieira Lima. O motivo da suspensão é o atraso no repasse dos recursos da Câmara e do Senado.
O jornal do IPC é dedicado a bombardear a proposta do governo, retirada da versão da reforma da Previdência que os deputados vão votar depois do Carnaval.
O IPC, segundo afirma o jornal, é a única garantia de um futuro tranquilo para os parlamentares.

Texto Anterior: Só 2 ministros permanecem em Brasília
Próximo Texto: Hotéis oferecem descontos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.