São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Amizade é tema do melhor Branagh

INÁCIO ARAUJO
DA REDAÇÃO

Kenneth Branagh apareceu com uma ambiciosa adaptação de Shakespeare, investiu num "thriller" supostamente à moda de Hitchcock, voltou a Shakespeare, em tom de comédia.
Mas o trabalho mais marcante do ator/diretor britânico, até o momento, é este "Para o Resto de Nossas Vidas" (Bandeirantes, 22h30).
Não por coincidência, é também o menos ambicioso. Ali, um aristocrata convida um grupo de velhos amigos (que um dia fizeram parte de uma trupe teatral) para passar uns dias em sua mansão.
Os afetos mal resolvidos desembocam em uma história tipo "quem transa com quem". Existe, no meio, uma história de Aids, e ela é que dá sentido ao conjunto.
Esse sentido não surge de uma ênfase no assunto, mas da como os gestos dos personagens, desde o início, parecem esvaziados de sentido. A morte é algo que se insinua nas imagens, no cenário, no recurso às fotografias que remetem o espectador ao passado.
Branagh identifica Aids e morte. Como a Aids é o pivô da trama e anuncia a morte, o tempo deixa de existir como perspectiva.
O futuro não se coloca; pelo mesmo motivo, o passado se esvazia. O presente, por sua vez, que é onde o filme acontece, passa a ter uma existência tumular.
Ninguém vai esperar que Branagh faça milagres. É um diretor jogado na fogueira de uma projeção instantânea e quase insuportável, desde que seu "Henrique 5º" foi indicado para o Oscar.
Mas "Para o Resto de Nossas Vidas" é um retrato íntimo de um grupo de pessoas ligadas por afetos profundos, num momento em que a Aids acabou transformando com tanta violência as relações interpessoais. Não é muito carnavalesco, de acordo, mas quem gosta de Carnaval não ver filme na televisão hoje.

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