São Paulo, sábado, 17 de fevereiro de 1996
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Olodum revê sua história em Montreux

CARLOS CALADO
ESPECIAL PARA A FOLHA

É mais um marco na explosiva trajetória do bloco afro-baiano que ganhou o mundo depois de conquistar o Pelourinho. O Olodum não deixou por menos: como outros astros da música internacional, também decidiu fazer seu disco "ao vivo em Montreux".
Além de 12 faixas registradas durante o Montreux Jazz Festival (na Suíça, em julho último), o CD "Sol e Mar" -décimo álbum da banda- também inclui sete composições inéditas e gravadas em estúdio, criadas para este Carnaval.
O material gravado em Montreux acaba funcionando como uma retrospectiva do Olodum, que existe desde 1979.
Sucessos mais recentes, como "Nossa Gente (Avisa Lá)" e "Requebra", aparecem ao lado de outros já clássicos, como "Faraó Divindade do Egito" e "Revolta Olodum".
Mas até quem não esteve presente no Stravinski Hall, o palco principal de Montreux, não terá dificuldade em perceber que a gravação "ao vivo" foi maquiada -provavelmente, por causa dos problemas de som que o Olodum enfrentou naquela noite.
Basta prestar atenção nos vocais de apoio, para se notar o timbre agudo de Silvinha, a cantora dos tempos da Jovem Guarda que já participara do álbum anterior da banda, mas não foi a Montreux. Ou mesmo o naipe de metais, que surgem miraculosamente afinados no disco, diferentes dos daquele show.
Já a mixagem, feita no Paisley Park Studio (nos Estados Unidos), equalizou bateria, sopros, teclados e vocais de um modo bem mais equilibrado do que se costuma ouvir nos shows da banda, em geral dominados pelo peso da percussão.
Claro que esses truques sonoros, incluindo algumas colagens de aplausos da platéia, não chegam a comprometer o resultado final. Perdeu-se em verdade, mas o ganho musical compensa.
Inéditas
Quanto às novas composições da banda, aprofundou-se mais ainda a tendência ao pop, iniciada há alguns anos.
As letras ganharam toques mais eróticos, em canções como "Seduz" e "Bala". Os temas sociais desta vez se resumem apenas a "Zumbi Rei".
Não resta dúvida: mais do que preocupado com suas raízes musicais, o Olodum parece decidido a enfrentar de igual para igual a concorrência das bandas e cantores do pop baiano, que quase sempre vampirizaram as inovações dos blocos afros. Quem vencerá?
Concorrente
Nessa briga pela popularidade, o Olodum ganhou neste ano mais um concorrente de peso: seu ex-vocalista e compositor Pierre Onasis, co-autor de hits como "Berimbau", "Requebra" e "Cara Caramba", que acaba de se lançar em carreira solo com o álbum "É de Apaixonar".
Dono de uma voz forte e metálica, Pierre aposta em uma grande variedade de ritmos: do samba de roda ("B Iáiá") ao reggae ("Grito de Amor"), passando pela salsa ("Explode Corazon") e pelo forró ("Paixão Acesa").
Aliás, Pierre vai mais longe ainda. Chega a sugerir uma insólita fusão de twist e samba-reggae ("Twist in Reggae"), que conta com a participação da mesma Silvinha, nos vocais. É o novo pop baiano flertando com a trintona Jovem Guarda.

Disco: Sol e Mar - Ao Vivo em Montreux
Grupo: Olodum
Lançamento: Continental
Quanto: R$ 18 (em média, o CD)

Disco: É de Apaixonar
Artista: Pierre Onasis
Lançamentos Continental
Quanto: R$ 18 (em média, o CD)

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